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25/04/2011 - 09h44

Filhos que odeiam os pais desabafam sobre relações desastrosas

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DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

Aos 16 anos, Isabel* decidiu se afastar da própria mãe. A relação entre ambas, que já vinha sendo áspera, havia chegado a um extremo.

O irmão mais novo da garota flagrou a mãe transando com um amigo de escola. A briga causada pelo encontro envolveu toda a casa e foi apartada pela polícia.

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Foi mais um episódio na convivência familiar conflituosa. "Eu sempre me frustrei, ela não tinha postura de mãe", afirma Isabel, 21, que passou meses afastada.

"Tive de me acostumar a não ter a melhor mãe do mundo. Ou a nem ao menos ter uma boa mãe", conta.

A história da garota é a variação sobre um tema comum a outros jovens ouvidos pelo Folhateen: a má relação com os pais que vai além das brigas para sair à noite ou ter aumento na mesada.

"Antes eu não tivesse conhecido meu pai. Assim eu ainda poderia sentir amor por ele", diz Ferdinando*, 16. "Hoje eu sinto apenas raiva."

O rapaz conheceu o pai aos oito anos. "Ele só dá atenção aos meus irmãos. A mim, nada", afirma. "Liguei no aniversário dele. Estou esperando há dois meses ele retornar a minha ligação."

Alguns relatos envolvem violência ou negligência, mas há disputas que vêm de má convivência e, às vezes, de intolerância mútua.

Além da relação ruim com a mãe, Augusto*, 20, também não se dá com o padrasto. E não cede: "Já desisti. Tentei, tentei, mas não consigo conviver com eles."

A disputa, no caso de Fábia*, 20, chegou à Justiça. A garota pediu a um juiz que obrigasse o pai a pagar a faculdade. Foi atendida.

Aos 11, ela já havia prestado queixa contra ele, no processo de separação dos pais.

"Ele era violento. Nunca fiz nada, sempre quis saber por que ele me tratava mal. Hoje, se o encontro na rua, não o cumprimento."

Crescer brigado também gera dúvidas. Lúcio*, 17, que não fala com o pai há três anos, diz sentir falta dele.

"Penso em retomar o contato, mas tenho medo de dar com a cara na porta", diz.

Tadeu*, 18, que voltou a falar com o pai após anos de brigas diárias, sugere paciência. "Demora para mudar esse hábito. Mas vimos que não brigávamos porque gostávamos de discutir, e sim porque éramos diferentes."

DELEGACIA

Um caso de briga entre mãe e filho é o da ex-modelo Cristina Mortágua e Alexandre, 16, nascido da relação com o ex-jogador Edmundo.

Em fevereiro, o garoto foi à polícia reclamar de maus-tratos. Cristina apareceu por lá, avançou nele diante das câmeras e, mais tarde, reclamou para a imprensa que o filho é gay e drogado. Hoje, Alexandre mora com a avó.

"Estava no auge do desgaste psicológico", disse Cristina. "Não dormia com medo de ele fugir de casa."

Ela credita parte das brigas a uma vontade "muito triste" de Alexandre querer ser famoso. Mas assume, também, parte da responsabilidade.

"A ausência da mãe em casa, para trabalhar, faz querer compensar com bens materiais, e a distância vai ficando maior. Não há tempo para vigiar. Cometi esses erros."

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*Nomes fictícios

Divulgação
Ilustração extraida do livro " Cicatrizes " de David Small; tradução: Cassius Medauar. - São Paulo, editora Leya, 2010.
Desenho do livro autobiográfico "Cicatrizes", do norte-americano David Small´
Divulgação
Ilustração extraida do livro " Cicatrizes " de David Small; tradução: Cassius Medauar. - São Paulo, editora Leya, 2010.
Escrever "Cicatrizes" foi uma forma de aceitar que às vezes não há amor entre pais e filhos
Divulgação
Ilustração extraida do livro " Cicatrizes " de David Small; tradução: Cassius Medauar. - São Paulo, editora Leya, 2010.
Cena do livro de David Small
 
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