Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Acontece

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica Drama

Progressão dramática de 'O Último Elvis' parece forçada

Longa argentino, que estreia amanhã nos cinemas, retrata sósia do músico

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

Na primeira imagem de "O Último Elvis" (2012), aparece uma escada, que a câmera sobe com leveza até entrar no espaço decorado de uma grande festa. O fim deste movimento culmina com a aproximação de um tipo gorducho, vestido com o figurino extravagante de seu ídolo.

Na trilha sonora do filme, que estreia amanhã nos cinemas, as notas épicas de "Assim Falava Zaratustra", música que na memória do cinema evoca a ópera espacial "2001 - Uma Odisseia no Espaço", sugerem que veremos uma situação de apogeu.

Mas a abertura funciona, ao contrário, como um ponto do qual despencam os sonhos do protagonista: um homem às vésperas de completar 42 anos e que vive de interpretar, como cover, as canções de Elvis Presley (1935-1977).

Ele insiste em chamar Alejandra, a ex-mulher, de Priscilla, mesmo nome da senhora Presley, e batizou a filha e o carro como Lisa Marie, filha de Elvis. Quando bate a fome, ele come sanduíches de banana com pasta de amendoim, lanche de toda hora em Graceland, lugar encantado onde o ídolo viveu e morreu.

De dia, Carlos Gutiérrez é um pobre-coitado, empregado numa indústria de lava-roupas. À noite, veste-se com figurinos brilhosos e se transforma numa versão pálida de uma divindade pop.

Ali ele existe, é ouvido e aplaudido. Mas, quando vai às agências, recebe microcachês ou tem de escutar a enrolação dos que lhe devem.

Nesse universo de faz de conta, o filme argentino dirigido pelo estreante Armando Bo não se interessa em fazer crônica social ou mapear a crise de valores. Quase só a ilusão de Carlos move a trama.

A adesão ao protagonista funciona bem na primeira parte, tragicômica, de "O Último Elvis". Enquanto ele circula em meio a uma fauna de covers, vemos que seu delírio não é solitário e reagimos com simpatia à sua miséria.

Aqui, vem à tona o encanto do perdedor, esses personagens desencaminhados que a ficção contemporânea elegeu para representar a maioria.

Na segunda metade do filme, a progressão dramática soa forçada, como se o roteiro já tivesse esgotado as possibilidades do personagem e precisasse puni-lo por ele ser alguém sem noção.

A solução, amarga demais, demonstra que o filme não crê o bastante em suas próprias sutilezas.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página