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Crítica - Teatro/Drama

'Vestido de Noiva' volta em montagem visualmente elaborada

NA ENCENAÇÃO DE ERIC LENATE, O CLÁSSICO DE NELSON RODRIGUES GANHA NOVA LEITURA. EM VEZ DE DESTACAR OS PLANOS DISTINTOS, O DIRETOR OPTOU POR UNI-LOS

CAROLIN OVERHOFF FERREIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Como peça psicológica, "Vestido de Noiva" revolucionou o drama brasileiro. Intercala três planos: a realidade, a memória e a alucinação. Esse truque estrutural que confronta os diferentes níveis da psique faz com que o triângulo amoroso entre duas irmãs que disputam o mesmo homem sirva para expor a hipocrisia pequeno-burguesa e seus principais pilares: o amor romântico e o casamento.

Na encenação de Eric Lenate, o clássico de Nelson Rodrigues ganha nova leitura. Em vez de destacar os planos distintos, o diretor optou por uni-los. Assim, a trama surge não como um embate entre o consciente e inconsciente de Alaíde (Gabriela Fontana), mas como uma recordação do passado quando ela se encontra entre a vida e a morte.

A projeção no fundo do palco de sequências fílmicas que mostram médicos operando em plano próximo serve como ponto de referência. Eles debruçam-se diversas vezes sobre o espaço cênico como se tratassem do corpo da jovem mulher.

A cenografia (Lenate), que lembra um bar ou cabaré, acolhe todas as cenas. Resulta do contexto da personagem do plano de alucinação, Madame Clessi (Lavínia Pannunzio), uma famosa prostituta assassinada pelo amante, cuja história Alaíde conheceu quando jovem.

A união espacial dos planos encontra seu equivalente dramático em uma linguagem teatral que enfatiza o caricato no comportamento pequeno-burguês. Percebe-se, por exemplo, o plano da realidade quando os personagens são carregados por homens mascarados para o palco.

Essa opção rende cenas visualmente elaboradas e fortes, apoiadas no complexo jogo de luzes (Fran Barros), nas projeções e no som. No entanto, não conseguem constituir um equivalente à jornada psíquica do original e à crítica nela contida. A desmesura sentimental, a face sombria e desumana da sociedade e o insulto à pequena burguesia perdem-se na teatralidade.

A pouca densidade psicológica de Alaíde e os confrontos verbais entre ela e sua antagonista, a mulher de véu (Luciana Caruso), em um tom excessivamente agressivo, também atrapalham uma proposta interessante que precisava de um enfoque crítico mais intenso e com mais nuances.


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