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37ª Mostra
Crítica - Drama
Diretor mexicano investe na ausência de ação
'Las Horas Muertas', de Aarón Fernández, narra aproximação de personagens que estão sempre à espera num motel
Filmar o tempo ou, melhor, a duração, a temporalidade vivida, não a dos ponteiros do relógio. Esse desafio encarado por cineastas da proporção de Antonioni ou Tarkovski tem sido o propósito de boa parte da produção contemporânea que atrai a atenção e ganha prestígio em festivais, como demonstra "Las Horas Muertas", segundo longa do mexicano Aarón Fernández.
O foco é o cotidiano de um adolescente que substitui o tio nas funções de gerente de um motel.
Limpar as suítes, trocar os lençóis, atender os clientes e garantir a discrição fazem parte das tarefas de Sebastián.
A primeira cena mostra o jovem numa moto, rumo ao motel. A essa mobilidade inicial sucede um conjunto de situações, sempre associadas à fixidez do personagem no espaço de trabalho.
Ao longo da praia, um garoto ágil rouba cocos para vender. Uma jovem passadeira vem às vezes quebrar galho e transa com um amante fortuito. Os clientes entram em carros e logo somem.
Enquanto isso, Sebastián permanece atrás do balcão ou no máximo no terreno, cumprindo suas obrigações.
De modo equivalente, Miranda, amante de um homem casado, encontra-se presa em seu trabalho como corretora de um empreendimento ou à espera no quarto do motel, aguardando a vinda do parceiro que nem sempre acontece.
A aproximação desses dois personagens à deriva parece anunciada. O tesão reprimido de um aproxima-se da sexualidade insatisfeita da outra, gerando uma fagulha, um instante de vivacidade que, no entanto, pouco dura.
A possibilidade de captar o vazio, de projetar nele a falta de sentido, aparece desde o título, que designa, com obviedade, tempos em que nada acontece.
Essa intenção aproxima o diretor da facção do cinema contemporâneo que crê no esgarçamento do drama, na recusa da ação e do conflito como um recurso tradicional esgotado.
Embora pertinente, essa proposta gerou um esquema, uma fórmula inspirada no cinema asiático que influencia de jovens cineastas do Leste Europeu a realizadores latino-americanos.
Fora da redoma dos festivais, contudo, a impressão desses filmes dura como o encanto de uma bolha de sabão.