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Cine Odisseia
Homem ao mar
PERI PANE
Agarrei-me à primeira sessão da Mostra que apareceu: 'A Camarada Kim Vai Voar'
Não há lugar melhor para chorar do que o cinema. A sala é escura, as lágrimas, transparentes, e todos estão prestando atenção no filme.
Para certos marujos qualquer enredo serve. Minha última vez foi em "Meu Malvado Favorito"! É que não se trata exatamente do filme, mas do estado de espírito do cidadão.
Todo mundo tem seu dia que é noite. E por mais que o sol ardesse naquele sábado, tudo que este argonauta solitário queria era entrar no cinema e derramar suas pérolas. Qualquer título servia.
Como um náufrago, agarrei-me à primeira sessão da Mostra que apareceu. Era "A Camarada Kim Vai Voar", da Coreia do Norte, sobre uma operária que quer se tornar trapezista. Esse misto de propaganda política do partido com filme da Xuxa proporcionou apenas algumas risadas de piadas involuntárias e um bom cochilo.
Emendei com a produção canadense-uruguaia "Dois Dias e Meio", de Pablo Diconca, em que um pai só pode ver o filho aos finais de semana. Não me fisgou.
Agora tinha um encontro marcado com Stanley Kubrick, em "Glória Feita de Sangue". Como a sessão começava às 23h55, procurei um lugar para matar tempo.
O café do teatro Cemitério de Automóveis, na rua Frei Caneca, 384, é um ótimo refúgio para os navegantes da Mostra que querem fugir do burburinho da rua Augusta e dos shoppings. Pedi um trago. Na mesa ao lado, o ator Paulo César Pereio puxou uma marchinha cujo refrão martelava "Eu sou carente". Quem não é? Seria falta de terra firme ou saudades de Penélope que atormentava esse Odisseu?
Afinal, as lágrimas rolaram apenas nas faces dos soldados franceses, depois do trágico desfecho no batalhão do coronel Dax. Tentei acompanhá-los, mas acabei seco, ao lado de um impávido Kirk Douglas.
RELATÓRIO DE BORDO
Dias de Mostra: 10. Filmes: 21. Destinos: França, Alemanha, Canadá, Coreia do Norte, Lua, Júpiter
