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Crítica - Humor

'A Besta' contrapõe a comédia popular ao teatro sério, e a comédia vence

DE SÃO PAULO

Dirigida por Alexandre Reinecke, que se firmou como "rei da comédia", "A Besta" é um esforço para discutir o próprio fenômeno da comédia popular em São Paulo. Ao longo da última década, ela viu seu público saltar, paralelamente aos musicais.

O que "A Besta" propõe é contrapor esse teatro àquele dito sério. De um lado da cena, um ator-autor popularesco feito por Hugo Possolo, "a besta" do título; do outro, um ator-autor trágico vivido por Celso Frateschi --ele que, aliás, fez Hamlet nos anos 80.

Possolo joga no palco todo o arsenal cômico que acumulou em três décadas na rua, como palhaço, inclusive armas mais questionáveis como a deformação da voz e os cacos, as improvisações.

Muitas brincadeiras verbais, de todo modo, já vêm da tradução fluente de Clara Carvalho. É uma peça caracterizada por dísticos rimados, pastiche consciente de "O Misantropo" e outras comédias de Molière (1622-1673).

Escrita em 1991 nos EUA, "A Besta" se passa na França do século 17. Uma princesa impõe ao líder de uma companhia (Frateschi) a aceitação de um comediante apelativo (Possolo) que vinha se apresentando em feiras.

Em autocrítica metalinguística, Possolo se desdobra freneticamente, apoiado na encenação segura de Reinecke. Só faltou flatulência, como na versão recente no circuito West End-Broadway.

Frateschi, cujo papel não recebe do dramaturgo David Hirson a atenção dada ao de Possolo, faz o melhor que pode com sua caricatura de ator sério. Também Iara Jamra faz sua parte e explora à exaustão suas poucas falas.

Esperava-se mais de Ary França. "A Besta" é, afinal, uma homenagem e uma crítica a encenações como "O Doente Imaginário", em 1989, em que ele roubava a cena a partir de poucas frases, com improvisações antológicas. Desta vez, como Béjart, ele está contido, até sério.

Também a Princesa de Priscila Fantin surge desnorteada em cena, entre a agressividade de quem dá as ordens e o romantismo que sua beleza indica. Mais felizes são os atores dos Parlapatões, que compõem a companhia da peça e abraçam com prazer os diálogos farsescos.

A encenação dá sinais de que preferia não tomar partido, mas o texto atrapalha, com evidente desequilíbrio entre os dois teatros retratados. Ainda assim, consegue transmitir um pouco do conflito artístico --e diverte.

Paródica como tudo na peça, a cenografia é do mesmo José de Anchieta de "Doente" e outras comédias. Entrosados com o cenário, os figurinos de Fabio Namatame, de sóbrios a mambembes, são destaque à parte.


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