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Espetáculo expõe feridas da ditadura

"Morro Como um País" amplia discussão política ao evocar diversas formas de violência praticadas por órgãos de poder

Peça é baseada em texto homônimo do escritor e poeta grego Dimitris Dimitriadis sobre ação totalitária em seu país

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um relógio com mecanismo invertido sugere um contrassenso no tempo. O objeto que avança retrocedendo é uma das metáforas usadas na peça "Morro Como um País" para retratar contradições de órgãos de poder público.

Escrito e dirigido por Fernando Kinas, o espetáculo estreia amanhã dando continuidade ao trabalho de pesquisa da Kiwi Companhia de Teatro, grupo habituado a fundir arte e política.

Composto por 33 cenas autônomas, o solo protagonizado por Fernanda Azevedo elege a ditadura como temática central, mas também evoca diversas outras formas de violência praticadas por governos de Estado.

O espetáculo nasce de uma mescla entre matérias de jornais e textos ficcionais sobre regimes ditatoriais, depoimentos de vitimas de repressão e músicas nacionalistas.

Tem como principal referência "Morro Como um País", texto literário criado em 1978 por Dimitris Dimitriadis, escritor, autor teatral e poeta grego. Testemunho do autor sobre a ditadura grega entre 1967 e 1974, o livro descreve de modo metafórico a destruição total de um país.

À maneira da obra, a peça também lança um olhar poético sobre a dura realidade das ditaduras. Rejeita a discussão literal ao revisitar momentos conflituosos da história impregnando seu enredo de lirismo.

Segundo Kinas, tal abordagem permite maiores voos reflexivos. Evidencia que a discussão é mais vasta do que o tema da ditadura e convida a uma reflexão mais ampla sobre a violência política.

Entre os depoimentos reproduzidos por Azevedo, estão declarações de Ernesto Geisel reconhecendo a existência de crimes praticados pelo governo militar, enquanto a atriz usa um elmo medieval sobre a cabeça. "Optamos em fazer referência à violência praticada na Idade Média para ampliar a discussão sobre o tema", explica Kinas.

A atriz também toma para si uma fala do poeta e dramaturgo uruguaio Maurício Rosencof, ex-preso político que ficou 11 anos encarcerado.

"Eu sou os que foram", diz ela em cena, evocando o homem atual como resultado da violência sofrida pela humanidade ao longo da história.

Segundo Kinas, não há uma carga emocional na representação. "A contundência se dá mais pela informação narrativa do que por recursos dramáticos convencionais", diz ele.

Azevedo sintetiza a busca da Kiwi. "Não temos as respostas para tudo, mas tentamos fazer as perguntas certas", resume ela.


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