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Profissional retrata a própria carreira em quadrinhos na web

Cartunistas amadores fazem humor com os absurdos da vida corporativa

(FELIPE GUTIERREZ) DE SÃO PAULO

Durante as aulas do curso de veterinária na USP, o cartunista da Folha Fernando Gonsales, 52, costumava desenhar animais no caderno. "Às vezes era sobre o assunto que estava sendo apresentado pelo professor, mas, às vezes, não tinha nada a ver."

Depois de formado, ele continuou criando ilustrações de bichos que, no futuro, passariam a figurar nas tirinhas do Níquel Náusea.

Gonsales acabou abandonando a veterinária para se dedicar apenas aos quadrinhos, mas há profissionais que mantêm suas carreiras e usam o próprio trabalho como enredo para esse tipo de narrativa.

Na web, há páginas de HQ feitas por gente de áreas distintas, como medicina, administração, tecnologia da informação e ciência.

"São pessoas que querem expressar como é seu dia a dia no trabalho e encontram nos quadrinhos o meio ideal", diz Waldomiro Vergueiro, professor titular da USP e coordenador do núcleo Observatório de HQs.

"Eles servem bem para divulgar o desencanto --ou o encanto-- com a profissão", afirma Vergueiro.

"Se você prestar atenção, sempre rola uma sacanagem. Quanto mais infeliz a vida do trabalhador, mais material para as tiras a gente tem", conta Iris Yan, 36, que usa a competitividade entre os funcionários das empresas como mote de suas histórias.

Yan publica suas tiras na internet, em blogs de diferentes temas. Um deles é o "Pigs Incorporated", no qual desenha histórias do tempo em que trabalhou em uma consultoria.

Atualmente vivendo em Barcelona, ela cogita voltar ao Brasil. Pensa em atuar como professora ou consultora para o terceiro setor, mas ainda não sabe em qual emprego irá "sofrer para poder dar vazão à criatividade".

Muitas vezes, as histórias são inspiradas em acontecimentos pouco comuns no trabalho. Foi um caso assim que alterou a vida do médico Solon Maia, 31, que atende em um hospital de Goiânia.

Um dia, ele recebeu uma paciente que, aos gritos, dizia que sua cabeça estava pegando fogo, apesar de isso não estar acontecendo.

Maia desenhava quando criança, mas havia abandonado o hobby depois de adolescente. Mesmo assim, resolveu contar, em quadrinhos, a história do atendimento.

A tira virou "um acontecimento" no hospital, diz o médico. Colocaram o papel no mural e o incentivaram a fazer novas ilustrações. Ele começou a publicar suas HQs no Facebook e, depois, criou o blog "Meus Nervos".

JANELA

O técnico de TI André Farias Oliveira, 31, conta que, uma vez, atendia a uma mulher pelo telefone e pediu que ela fechasse a janela do programa que estava travando. Mas a interlocutora não entendeu e se levantou para verificar se a janela do cômodo estava aberta.

Essa história, ele diz, é recorrente entre seus colegas.

São casos como esse que viram roteiros do "Vida de Suporte", o blog de HQ que Oliveira mantém na web.

O técnico ganha dinheiro de diversas maneiras com o site: oferece mercadorias com estampas, tem patrocínio e vende tuítes e posts no Facebook. A receita com isso tudo varia, mas a média é de cerca de R$ 2.500 por mês, diz.

Farias consegue esse valor por ter um número significativo de leitores --por dia, são cerca de 10 mil. Ele fez uma pesquisa para saber quem lê a página e descobriu que 70% são profissionais de TI. Muitos mandam suas próprias histórias para que Oliveira as transforme em HQ.

Jão, ou João Garcia, 60, trabalha no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), em São Paulo, com divulgação científica e desenha sobre esse tema desde 1994. As tiras dele são publicadas, de graça, em uma revista chamada "ComCiência".

Ele começou a reproduzi-las também na internet em 2009 (oscientistashq.blogs pot.com.br), e, notando que recebia visitas de fora do Brasil, passou a fazer também uma versão em inglês. "Ciência é uma área em que há muitos mitos e considero que são bons temas para se brincar."

Outro estudioso das HQs, Gazy Andraus, que tem doutorado na área de quadrinhos, aponta a internet como motivo para surgirem novos profissionais que usam esse jeito de contar histórias sobre o trabalho. "Antes, a publicação em papel dependia muito de jornais e editoras".


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