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Ancestral peso-mosca

Cientistas acham fóssil mais antigo do grupo de primatas que inclui o homem; criatura tinha só 30 g

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma criaturinha do tamanho de um camundongo, que saltitava pelas copas das árvores de uma floresta chinesa há 55 milhões de anos, é o mais antigo exemplar do grupo de animais ao qual pertencem o homem e todos os macacos vivos hoje.

A descrição da espécie, feita por paleontólogos da China, dos EUA e da França, está na edição desta semana da revista científica "Nature".

Para os cientistas, o Archicebus achilles merece os holofotes, apesar dos meros 30 gramas, porque seu esqueleto fossilizado está praticamente completo (faltam só as "mãozinhas" do bicho), enquanto outros fósseis de primatas com a mesma idade não passam de cacos.

"Ele é tão completo que quase não temos com o que compará-lo", afirma Chris Beard, pesquisador do Museu Carnegie de História Natural (EUA) e coautor da descrição do bicho. "De fato, no período de que estamos falando, ele é único."

Os especialistas costumam dividir os primatas em dois grandes grupos. O primeiro, o dos estrepsirrinos, engloba os famosos lêmures de Madagáscar e criaturas parecidas, enquanto o dos haplorrinos tem como principais astros os macacos propriamente ditos (incluindo aí o homem moderno e seus ancestrais).

A análise do esqueleto do A. achilles indica que ele é um haplorrino e, mais especificamente, um membro muito primitivo do grupo dos társios, animais diminutos da Indonésia e das Filipinas que mais parecem os elfos domésticos da série "Harry Potter", a julgar pelos olhos enormes e pelas orelhas esquisitas.

O interessante, no entanto, é que o bicho está muito próximo do ponto no qual as linhagens dos társios e dos macacos propriamente ditos se separaram. Por isso mesmo, seu esqueleto é uma espécie de mosaico, com características de ambos os tipos de bicho.

É daí que vem o achilles do nome --assim como o herói grego Aquiles, ele tinha um calcanhar fora do comum.

"O calcanhar, e o pé como um todo, são os detalhes mais chocantes do fóssil, porque lembram os de um sagui, o que não esperávamos", diz Beard. Além disso, enquanto os társios de hoje são criaturas da noite (daí os olhões), as órbitas da espécie primitiva têm tamanho normal, sugerindo hábitos diurnos.

ORIGEM ASIÁTICA

Em entrevista coletiva por telefone, os pesquisadores contaram que o fóssil foi encontrado há cerca de dez anos por um fazendeiro chinês.

"Consegui persuadi-lo a doar o fóssil para a nossa instituição", disse o paleontólogo Xijun Ni, da Academia Chinesa de Ciências, que é o primeiro autor do estudo. O local do achado, para Beard, não é coincidência.

"Os argumentos a favor de uma origem asiática para os primatas ficam mais fortes a cada dia", diz o americano.

"O sequenciamento de DNA mostrou que os parentes mais próximos vivos hoje são animais como os lêmures-voadores, que só existem no Sudeste Asiático. O registro fóssil também mostra uma diversidade maior de primatas na Ásia nas fases iniciais da evolução do grupo."

Quem já viu saguis brasileiros em seu ambiente natural teria uma imagem mais ou menos correta de como era a vida do animal.

"Essa espécie viveu durante o que conhecemos como o máximo termal do Paleoceno-Eoceno, um período de aquecimento global no qual todo o planeta estava coberto com ecossistemas tropicais e subtropicais. Era uma época ótima para ser um primata", afirma Chris Beard.

"Imagine um animal frenético, até mesmo ansioso, muito ágil, saltando pela copa das árvores à procura de insetos", diz o paleontólogo.


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