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Encontro marcado

Daqui a um ano, sonda que viaja desde 2004 pelo espaço vai sobrevoar um cometa e enviar um módulo de pouso ao seu núcleo, feito inédito

RICARDO BONALUME NETO ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Um projeto concebido há duas décadas está perto de ser concluído, depois de quase dez anos de viagens pelo Sistema Solar.

A sonda espacial europeia Rosetta, lançada em 2004, deverá sobrevoar o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko em 2014, além de enviar um minilaboratório, o Philae, para pousar no núcleo do corpo celeste, um feito inédito.

Cometas são verdadeiros "fósseis" espaciais, surgidos há bilhões de anos e mantendo basicamente a mesma composição química.

Ao passarem perto do Sol, criam a famosa cauda luminosa que os caracteriza, ejetando poeira, água e outras substâncias.

A ESA (Agência Espacial Europeia) já tinha tradição no estudo desse tipo de astro. A sonda Giotto passou a meros 600 km do núcleo do cometa Halley em 1986. Foi um feito impressionante, que deu ímpeto ao ainda mais ambicioso projeto Rosetta.

O nome da sonda é uma homenagem à Pedra de Roseta, encontrada no Egito e que ajudou a decifrar a antiga escrita egípcia de hieróglifos, pois o mesmo texto também está escrito em grego; Philae é uma ilha onde foi achado um obelisco também usado na decifração.

As duas sondas também pretendem "decifrar" os enigmas dos cometas.

A ideia foi aprovada em 1993 e seu projeto começou em 1996, na empresa Astrium, a maior do setor espacial na Europa. Desde então o engenheiro Gunther Lautenschlaeger está envolvido com a missão.

"Em primeiro lugar, estou esperando nervosamente o despertar da Rosetta em janeiro de 2014 e interessado em saber como o nosso bebê' sobreviveu a mais de dois anos sem nenhum contato com a Terra", afirmou Lautenschlaeger à Folha.

A Rosetta vai monitorar a passagem do cometa pelo Sistema Solar, com especial atenção para sua atividade ao ser aquecido pelo Sol.

O laboratório Philae vai estudar a composição do núcleo do cometa. O módulo de pouso vai fazer um furo de 20 cm de profundidade para coletar amostras para análise pelo laboratório de bordo.

Graças a novas tecnologias de células solares, a sonda é a primeira a ir além do cinturão de asteroides dependendo apenas de energia solar, em vez dos tradicionais geradores térmicos.

A 800 milhões de quilômetros do Sol, o nível de radiação é apenas 4% daquele que atinge a Terra.

"Nenhuma missão anterior viajou tão longe no espaço profundo, perto de Júpiter, apenas com painéis solares; ela é com certeza uma espaçonave verde'", disse o engenheiro, gerente do projeto na Astrium.

A sonda tem dois painéis solares de 14 metros de comprimento cada um. Os 11 instrumentos a bordo ficam concentrados no lado que será direcionado ao cometa e são capazes de medir a composição, a massa e o fluxo de poeira do núcleo, além da interação do cometa com o vento solar de partículas carregadas eletricamente

"Creio que a sonda vai se encontrar precisamente com o cometa e escoltá-lo chegando mais perto do Sol. Aqui começará a incerteza, com coisas como erupções e poeira. Mas a Rosetta foi projetada para sobreviver", disse Lautenschlaeger, que há dezessete anos aguarda pelo sucesso final da missão.

A parte mais "perigosa" dessa trajetória, no entanto, é o passo final, a ser dado em novembro de 2014: o pouso do minilaboratório Philae no núcleo do cometa.

Segundo o engenheiro, o módulo foi projetado para áreas de pouso extremas, mas a gravidade do cometa, cujo núcleo tem 4 km de diâmetro, é muito baixa. "E ninguém sabe exatamente o que há na superfície", afirmou.

"Pode ser poeira macia, na qual ele vai afundar; ferrita sólida, na qual pode se arrebentar; ou uma superfície de fendas, onde pode cair de lado ou de cabeça para baixo."

O que resta às equipes é cruzar dedos até 2014.


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