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Cientistas japoneses criam fígado para transplante com célula-tronco

Versão embrionária de órgão foi implantada em camundongos doentes, que tiveram melhora

Primeiro teste em humanos deve começar daqui a dez anos; objetivo do grupo é criar terapia não invasiva

RAFAEL GARCIA DE SÃO PAULO

Cientistas japoneses conseguiram recriar pela primeira vez em laboratório um fígado funcional usando células-tronco reprogramadas. O órgão humano em fase precoce de desenvolvimento foi implantado em camundongos com falência hepática, que tiveram melhora.

A técnica, descrita em estudo na revista "Nature", foi desenvolvida por Takanori Takebe, da Universidade da Cidade de Yokohama.

O fígado foi construído a partir de células de pluripotência induzida (conhecidas como iPS), reprogramadas para se tornarem tão versáteis quanto células-tronco embrionárias.

Elas foram então tratadas para se tornarem hepatócitos, as células operacionais do fígado. E, misturadas a dois tipos de células embrionárias de vasos sanguíneos, começaram a se transformar espontaneamente em pequenos "brotos" de fígado.

Se o plano dos cientistas der certo, o material pode um dia ser usado no lugar de fígados transplantados.

Os brotos hepáticos obtidos são essencialmente fígados em fase embrionária. Implantados na cavidade abdominal de camundongos, eles colonizaram o órgão doente e restauraram sua função.

No experimento, cada um dos 17 roedores recebeu 12 brotos de 4,5 mm cada. Adaptar a técnica para humanos, porém, será mais difícil, pois a ideia é produzir brotos microscópicos que possam ser injetados no sangue. Eles migrariam espontaneamente para o fígado, num procedimento menos invasivo.

"O que consideramos para aplicação clínica é criar dezenas de milhares de brotos hepáticos in vitro, mas isso não está a nosso alcance ainda", disse Takebe em entrevista por teleconferência.

"Precisamos criar um sistema de ponta para cultivar em grande escala os brotos hepáticos derivados de células iPS. Isso deve levar uns cinco ou seis anos", disse. O primeiro teste clínico em humanos, então, viria a ocorrer só daqui a cerca de dez anos.

O experimento também comprovou que os brotos de laboratório, produzidos a partir de células humanas, estavam mesmo se comportando como fígados humanos, e não de roedores.

Isso foi feito numa etapa anterior, na qual os implantes eram colocados no cérebro dos animais. O estranho procedimento foi necessário para que cientistas tivessem fácil acesso aos brotos hepáticos e verificassem se ele estavam produzindo as proteínas certas, como a albumina.

COQUETEL DE CÉLULAS

O segredo para recriar fígados em laboratório foi usar o "coquetel de células" correto para o broto hepático se organizar espontaneamente.

Estudos que vinham tentando criar novos fígados apenas com hepatócitos não vinham tendo sucesso. Os dois ingredientes que faltavam eram o tecido de veias de cordão umbilical e as células-tronco mesenquimais (um tipo de material embrionário).

Segundo Takebe, a mesma técnica deve dar certo para criar rins e pulmões em laboratório. "E já estamos tentando aplicar essa técnica de auto-organização à formação do pâncreas", diz o cientista.


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