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"Filhos não são brinquedos", diz geneticista
DE SÃO PAULOAlguns geneticistas não se opõem à prática da seleção de gametas caso seja aplicada apenas para evitar que a criança adquira doenças, mas acreditam que a escolha de genes deve ser limitada.
"Acho totalmente antiético selecionar características fúteis'; filhos não são brinquedos", diz Mayana Zatz, da USP. "No momento em que você escolhe uma característica importante para você, como o talento esportivo, você coloca uma enorme expectativa em torno disso, e seu filho pode se revoltar."
Zatz também afirma que implementar tal teste seria complicado do ponto de vista do consumidor, pois é difícil que características prometidas por uma empresa sejam de fato todas "entregues" quando o bebê nasce.
"Seria possível selecionar características com herança mendeliana, que dependem de um gene, como a cor de olhos", diz a cientista. Manipular o talento para esporte e a longevidade, porém, "seria impossível".
Alguns eticistas, como Marcy Darnoovsky, diretora-executiva do Centro para Genética e Sociedade, uma ONG de direitos genéticos e reprodutivos, comparam a prática de seleção de genes à eugenia, e pedem que a empresa se comprometa a combatê-la.
"A 23andMe pode demonstrar que é séria ao agir com responsabilidade nesse assunto, caso anuncie que vai usar sua patente para impedir terceiros de tentarem adotar essa tecnologia", diz.