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Entrevista - Paul Zak

Hormônio do amor pode ser estimulado com contato social

NEUROCIENTISTA DIZ QUE EMPATIA E CONFIANÇA PODEM AUMENTAR OS NÍVEIS DE OCITOCINA E GERAR UM 'CICLO VIRTUOSO' DE GENEROSIDADE

JULIANA VINES DE SÃO PAULO

Depois de 12 anos coletando o sangue de voluntários para uma série de experimentos, o economista e neurocientista americano Paul Zak, 51, diz ter descoberto a molécula que funciona como um interruptor da bondade humana: a ocitocina, conhecida como o hormônio do amor.

Apelidado de Dr. Love, Zak, que é professor da Universidade Claremont, na Califórnia, e autor do livro "A Molécula da Moralidade" (Campus, 264 págs., R$ 69,90), participa hoje do ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento, em São Paulo.

À Folha, ele explica o que chama de "ciclo virtuoso da ocitocina" --a possibilidade de estimular a produção do hormônio em outras pessoas e, assim, gerar uma sociedade mais generosa. Leia trechos da entrevista.

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Ocitocina e confiança
Eu já estudava a confiança interpessoal quando, em 2001, uma colega me falou sobre a ocitocina. Pesquisei e tive uma revelação: talvez a molécula conhecida como hormônio feminino pudesse estimular uma preocupação com o próximo, que se manifesta por meio da confiança.
Era uma ideia doida, então fiz experimentos medindo o nível de ocitocina no sangue de voluntários --durante situações reais, como ao checar os níveis hormonais de noivos antes e depois de um casamento, ou em testes em laboratório-- até me certificar e publicar os resultados.

Molécula do amor
Nas pesquisas, encontramos uma relação entre níveis altos de ocitocina e uma postura mais generosa. [Por exemplo: quando voluntários participaram de um teste em que tinham que dividir dinheiro com estranhos para poder ter mais lucro, níveis mais altos do hormônio foram encontrados entre aqueles que receberam o montante, em resposta à demonstração de confiança dos doadores, o que fez com que fossem mais generosos.]
A ocitocina é a base biológica do amor, ajuda as pessoas a confiar nos outros, a dar dinheiro para a caridade.

Ativismo pró-hormônio
Podemos nos transformar em ativistas sociais e impulsionar um ciclo virtuoso: a ocitocina gera empatia, que inspira confiança e aumenta os níveis hormonais na outra pessoa, o que a leva a demonstrar mais empatia. Isso pode construir uma sociedade mais conectada e afetiva.

Receita
Há uma "receita" para aumentar os próprios níveis de ocitocina, a minha favorita é dar oito abraços por dia --cheguei nesse número porque penso em um abraço por hora, durante um dia de trabalho.
É como se déssemos de presente a alguém um aumento nos níveis de ocitocina. Também produzimos o hormônio em oração e quando damos atenção a outra pessoa.

Spray de ocitocina
Entender o mecanismo biológico da ocitocina e tentar se esforçar para se conectar verdadeiramente com as pessoas funciona melhor do que aspirar um spray com o hormônio. Testamos isso em laboratório e comprovamos: somos criaturas sociais. Nós precisamos do contato. Ser honesto, gentil e ter compaixão exige que sejamos parte da sociedade.

Antagonistas
Altos níveis de estresse e de testosterona podem diminuir a ação da ocitocina. Mas isso não quer dizer que o hormônio só tenha influência em laboratório, em uma realidade controlada. Testamos situações reais, por exemplo, em guerreiros tribais em Papua-Nova Guiné, e vimos que mesmo em situações com estresse moderado a ocitocina desempenha o mesmo papel.

Reducionismo
Não estou reduzindo a moral humana a uma molécula. Mas a ocitocina parece ter um papel de coordenação do mecanismo da moral. Não significa que as teorias da filosofia ou da teologia sobre moral estão erradas. O que tentamos fazer é encontrar os mecanismos biológicos por trás da moralidade humana.


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