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Tamanho de delegações pode travar debates
FRANCISCO ZAIDEN COLABORAÇÃO PARA A FOLHAEnquanto negociadores quebram a cabeça para escapar de mais um fiasco em Doha, um novo estudo diz que esse esforço será em vão se um novo modelo de discussões não for implantado em breve.
A conclusão é de pesquisadores da Universidade de East Anglia (Reino Unido), da Universidade do Colorado (EUA) e da empresa de consultoria PricewaterhouseCoopers.
O trabalho, liderado por Heike Schroeder e publicado na revista especializada "Nature Climate Change", questiona o modelo de votação e a quantidade desigual de membros nas delegações.
O número de participantes atingiu seu ápice na COP de Copenhague, em 2009 -foram enviadas, ao todo, quase 11 mil pessoas, com resultados de negociação muito fracos.
De acordo com o estudo, as pequenas delegações acabam não conseguindo acompanhar múltiplas reuniões que ocorrem ao mesmo tempo.
Na COP do ano passado, realizada em Durban (África do Sul), o Brasil, por exemplo, levou cerca de 200 pessoas, enquanto Somália e Camboja tinham apenas um representante.
Para evitar isso, os especialistas sugerem que a ONU limite o número de delegados, igualando o peso de cada nação.
HORA DO VOTO
Também muito questionado, o modelo de votação -hoje, por consenso- é considerado ultrapassado pelos pesquisadores, que sugerem que se implante a votação por maioria.
"As atuais estruturas da ONU são altamente desiguais e obstruem o progresso em relação à política internacional de cooperação sobre mudanças climáticas", escrevem eles.
Para Eduardo Viola, professor titular de relações internacionais da UnB (Universidade de Brasília), é preciso levar em conta que as conferências climáticas envolvem outro fator, ainda mais importante: "A ONU não é uma organização mundial, é um local de diálogo de Estados nacionais soberanos".
Ou seja, a entidade promove debates e negociações, mas não é um parlamento em que as nações atuem juntas.
Pelo contrário, segundo Viola, a realidade é que há apenas o sistema de soberania dos Estados e nações, não existindo de fato uma governança e organização globais.
E é por isso que as coisas travam, diz. "A mudança climática é uma questão que mostra a interdependência do mundo. Não há solução individual, tem de ser feita pela maioria dos países."