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Comer em família é ato crucial, diz autor norte-americano

Ativista culinário afirma que jantar com a família à mesa ensina crianças a viver bem e se portar em sociedade

"Meu papel é convencer as pessoas a comerem com consciência. Comer sem pensar é o maior problema que temos"

RICHARD JOHNSON DO "GUARDIAN"

O que temos para o jantar? E onde vamos comê-lo? Em companhia de quem? Michael Pollan crê que as respostas a essas perguntas possam determinar nossa sobrevivência como espécie.

No caso dele, as respostas são: almôndegas, na mesa de jantar, com a família.

Crítico e ativista culinário norte-americano, ele acaba de voltar para casa depois de uma turnê de promoção de seu novo livro, "Cooked: A Natural History Of Transformation" [cozido: uma história natural da transformação]. Agora, quer desfazer as malas e cozinhar um pouco.

A comida não será servida em bandejas e nem comida diante do televisor porque sentar-se à mesa é muito importante. "É onde ensinamos aos nossos filhos os bons modos para que vivam bem em sociedade. Nós os ensinamos a compartilhar. A esperar sua vez. A discutir sem brigar. Aprendem a arte da conversação. A refeição familiar é o berçário da democracia".

Mas a refeição em família, ou "alimentação primária", está em declínio --caiu a 67 minutos por dia, segundo Pollan. As refeições secundárias (realizadas enquanto a pessoa faz outra coisa) ocupam 78 minutos diários.

ATO POLÍTICO

Cozinhar é o que acontece entre a agricultura e a alimentação. É um ato político, ele sugere, porque ao cozinhar podemos melhorar a saúde, quebrar nossa dependência em relação a conglomerados e criar um senso de comunidade.

Mas como qualquer tema político, isso pode provocar debates ferozes. Pollan convida a críticas quando sugere que a dependência moderna com relação à comida consumida de modo solitário começou quando a mulher passou a trabalhar fora.

O argumento dele não é o de que o feminismo destruiu a culinária caseira, mas o de que a indústria da comida utilizou a retórica do feminismo para tanto.

"O feminismo exigia uma renegociação da divisão do trabalho caseiro, e a indústria aproveitou a oportunidade dizendo que ela tinha a resposta para o problema e cozinharia por nós. E todos aceitamos essa solução'".

Pollan, 58, mora com a mulher, Judith, 56, e o filho Isaac, 20. A cozinha deles foi projetada para "três pessoas que gostam de conviver e de cozinhar juntas". Nela, Pollan vem aprendendo a "transformar" a comida: a assar, grelhar, refogar.

Ele ama comida desde criança. Mas, a despeito de ter escrito diversos livros premiados sobre o assunto, ele não sabia cozinhar de verdade.

"Como muita gente, eu vivia dividido em relação à cozinha. Hoje em dia, ninguém precisa preparar refeições se não quiser e, por isso, sentimos um conflito quando estamos na cozinha. Sempre há algo mais agradável ou mais fácil ou mais produtivo que poderíamos fazer."

Pollan testou quanto tempo uma refeição pré-preparada permite economizar: zero. "Isso acontece porque um micro-ondas é uma máquina serial individual. Se você tiver quatro convivas, cada qual comendo uma entrada diferente, terá de esquentar as quatro em separado. E quando a última estava pronta, já era preciso requentar a primeira, que tinha esfriado."

GURU DA ALIMENTAÇÃO

Eu esperava que Pollan fosse um sujeito pomposo e ríspido, como quase todos os demais gurus da alimentação que já conheci.

Mas ele não é assim, e descubro que tampouco é avesso a um petisco industria- lizado ocasional. "Temos uma pipoca caramelizada que se chama Crackerjacks. Se vou ao posto de gasolina, é isso que compro."

Pollan é um homem divertido. Mas o peso de sua função como fiscal da dieta ocasionalmente o sobrecarrega.

"Tornei-me o superego alimentar de muita gente. Para mim, isso é desconfortável. Coma o que quiser. Não é meu papel patrulhar."

"Meu papel, acredito, é convencer as pessoas a comer com mais consciência. Comer sem pensar é o maior problema que temos."

Pollan não quer convencer as pessoas a cozinhar. Quer nos atrair, nos mostrar por meio de suas narrativas como a cozinha pode ser recompensadora.

"Cozinhar é uma atividade muito estimulante. Muito satisfatória. Você aprende muito sobre plantas e animais. Começa a reconhecer seu lugar no mundo." Para aprender essas valiosas lições, ele diz, as crianças precisam ser ensinadas sobre comida. "Há poucas capacidades mais importantes para a vida."

Quando Isaac tinha 13 anos, diz Pollan, ele começou a confiar na comida. "Perdeu o medo dela porque via como era preparada." Agora, Isaac muitas vezes faz seus trabalhos de faculdade na mesa da cozinha enquanto os pais cozinham. "Pedimos que ele pique uma cebola ou moa alho. Depois, quando a comida está quase pronta, ele cuida da redução, com vinho do porto. A mesa realmente é o centro de nossa família."


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