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Minha História - Joventina Paixão, 70

De Maria, com amor

(...) Eu ficava rodando por SP com meus palitinhos de frutas caramelizadas. Andava na Augusta, no Mackenzie, no colégio Bandeirantes, no Dante e no clube Paulistano

LUISA ALCANTARA E SILVA DE SÃO PAULO

resumo

Joventina Paixão nasceu em Salvador, em 1942. Aos dez anos, veio a São Paulo, de onde nunca mais saiu. Chegou a ir à escola, mas largou os estudos. Trabalhou como babá e pipoqueira, mas foi pela venda de frutas caramelizadas nas ruas da cidade que ficou mais conhecida. Maria das Uvas, como é chamada, hoje é vendedora no Ibirapuera. As frutas, só por encomenda e devem ser retiradas na casa dela, no Rio Pequeno (0/xx/11/99381-0178).

-

Faz mais de 30 anos que me chamam de Maria. Meu nome mesmo é Joventina Paixão, mas já me acostumei, sou a Maria das Uvas.

Essa história começou quando eu tinha dez anos, em 1953, e vim de Salvador a São Paulo. Em pouco tempo, eu já estava trabalhando.

Com 12 anos, virei empregada doméstica de uma casa na Vila Nova Conceição (zona oeste). Meu patrão me colocou na escola, mas não fiquei muito tempo. Nunca gostei de estudar.

Esse patrão era ótimo, mas tinha uma outra empregada na casa, dona Elza, que não deixava eu comer. Fui atrás de ajuda e um padre me disse que tudo ia dar certo. Aguentei mais um tempo lá e saí.

Quando eu tinha 16 anos, fui trabalhar com a dona Alice. Ela tinha quatro filhos, e eu cuidava deles.

Um dia, estava no táxi, voltando do trabalho, e o motorista disse que eu era muito bonita.

Contei para a dona Alice do tal do taxista e ela falou para eu sair com ele. Ele me dava muito presente. Logo para mim, que nunca tinha ganhado nada na vida. Em oito meses, eu e Francisco fomos morar juntos, numa casa no Rio Pequeno (zona oeste; casa em que ela vive até hoje).

Ainda era empregada na casa da dona Alice, mas os meninos já estavam grandinhos e, em 1960, comecei a trabalhar na empresa dela, que vendia uvas e outras frutas caramelizadas.

Aquela época foi muito feliz. Eu me casei com o homem que amava e estava trabalhando com as frutas.

Vendia 150 palitos de uva por dia, era um sucesso.

Eu ficava rodando por São Paulo. Passava na rua Augusta, na porta do Mackenzie, no colégio Bandeirantes, no Dante [colégio Dante Alighieri] e no clube Paulistano.

Só no Dante trabalhei por quase 35 anos. Foi lá que começaram a me chamar de Maria. Porque tinha uma Maria que vendia as frutas lá. Ela saiu e eu entrei no lugar dela. Assim que virei a Maria das Uvas.

As maçãs eu comecei a fazer por encomenda. E aproveitava os finais de semana, quando eu não trabalhava para a dona Alice, para vendê-las no parque Ibirapuera.

Até que entrou o prefeito Reinaldo de Barros (1979-1982). Ele queria que todo mundo tivesse um ponto fixo no parque. Aí me inscrevi e virei pipoqueira nos finais de semana.

Com o Jânio Quadros na prefeitura (1986-1989), tive que parar com a pipoca. Ele complicou a venda no parque de qualquer coisa que precisasse de fogo para ser feita.

Então fui vender minha pipoquinha na USP. Mas, de segunda a sexta, continuava com as frutas caramelizadas. Ah, tinha também figo, damasco, tâmara...

Dei sorte, porque sempre gostei de cozinhar. O caramelo é fácil de fazer. Preparo a calda fio e apago o fogo quando ela está no ponto de ouro (na cor dourada). O ponto é o mais importante, porque, se passar, fica ruim.

Ah, além do caramelo, faço frutas com chocolate. Hum... também é uma delícia.

Mas agora só vendo as frutas sob encomenda. Meu trabalho mesmo é no Ibirapuera. Vendo água de coco, Gatorade, batata... essas coisas.


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