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Garçonete por um dia

Inspirada pelo Dia do Garçom, 11 de agosto, repórter vira funcionária de restaurante, com direito a derrubar café em cliente

LUISA ALCANTARA E SILVA DE SÃO PAULO

--Olá, boa tarde!

--Um penne oriental.

Assim, com variações de pratos, clientes "me cumprimentaram" algumas vezes no sábado (20 de julho) em que trabalhei como garçonete do restaurante Spot do bairro Cerqueira César --a marca acaba de abrir uma casa no shopping JK, também em São Paulo.

Além de perceber como muita gente não conhece "por favor" e "obrigado" quando fala com empregados, a experiência serviu para confirmar como o trabalho de garçom é pesado.

Cheguei ao restaurante às 10h20. Como queria a experiência completa, comecei a ajudar os funcionários a limpar os jogos americanos, a tirar migalhas e outras sujeiras das cadeiras e a passar álcool nos talheres já lavados. Sim, é preciso. Para tirar qualquer marca que o sabão, ou o dedo, possa ter deixado.

Às 11h45, pausa para um sanduíche de pão e frios atrás da cozinha. Volto para o restaurante logo depois. Lá estava o meu instrutor.

Começo anotando o pedido de um casal, mas esqueço que tenho que perguntar o ponto da carne, se é para trazer o refrigerante com gelo, com limão, com gelo e limão ou sem nada.

Deixo o pedido para a cozinha, olho para as mesas e penso: "Vai ser tranquilo".

Engano. O salão começa a encher e eu me embanano, perguntando sempre ao meu instrutor o que devo fazer.

Anotar pedido, passá-lo para o computador. Se foi pedida entrada, colocar pratinhos, levar as bebidas, levar a entrada. Retirá-la, arrumar a mesa para o prato principal, levar os pratos, retirar os pratos, anotar as sobremesas, levá-las, retirar pratos e talheres sujos. Quer café? Sim? Levar açúcar e adoçante à mesa, levar o café. E, finalmente: crédito ou débito?

Mas o que fazer quando duas pessoas estão no meio de uma discussão? É preciso jogo de cintura para não parecer indelicado. Porque, afinal, ali é um restaurante, as mesas devem consumir.

Uma regra básica que aprendi em um treinamento de três horas e que funcionou bastante é: mesmo que você não possa atender o cliente naquele momento, deixe claro, com um olhar, que viu que está sendo chamado.

E o que fazer, levando pratos para lá e para cá, quando a fome vai aumentando? Nada. Pois é, garçom sofre.

Como não poderia deixar de ser, meu dia de garçonete teve um acidente.

Apesar de eu e mais um sermos responsáveis por um setor do salão, todos os garçons se ajudam. Se você vir que há um refrigerante para ser levada à mesa x, que não é da sua área, mas você está ali, de bobeira, esperando um prato sair, pode ajudar.

Vi três xícaras de café para serem levadas a uma mesa de outro setor. Pensei "Melhor não, vou fazer besteira". Passaram alguns minutos e nada de alguém levá-las.

"Ah, vai, eu consigo." Engano, de novo. Pá! Uma xícara foi ao chão, e o café respingou em um cliente. "Ai, desculpa, que idiota..." "Não, tudo bem, vou ao toalete limpar", disse ele. Uma garçonete sussurra: "Relaxa, acontece com todo garçom. E pior".

O tempo passa voando. E eu passo o tempo correndo. Para lá e para cá, sem parar. Como diz o "manual do garçom" do Spot, sempre há uma mesa para ser limpa e uma bebida para ser levada.

Às 17h30, o gerente do dia me libera. Trabalho cumprido, ainda como uma salada com os funcionários atrás do salão. Pelo dia de trabalho, receberia R$ 100 de gorjeta (garçons mais experientes ganham mais).

No dia seguinte, dor nas pernas. Senti como se, naquele sábado, tivesse corrido uma prova de dez quilômetros --algo que faço toda semana.


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