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Análise

Ao exigir muita força física, profissão de cozinheiro é historicamente masculina

JOSIMAR MELO CRÍTICO DA FOLHA

Nas cavernas, os homens caçavam, e quem cozinhava eram as mulheres. Por séculos, este padrão foi reproduzido na maioria das culturas: os homens continuaram saindo para prover a comida, e as mulheres em casa a preparavam.

Nos restaurantes, porém, este ofício foi predominantemente masculino. Por um lado, porque os trabalhos em geral eram predominantemente masculinos --à mulher cabia ficar com a prole.

Mas, além disso, a profissão de cozinheiro sempre foi particularmente extenuante, requerendo força física.

Não se tratava só de harmonizar sabores e temperos. Tratava-se também de carregar peças de boi --e esquartejá-las, manipular pesados caldeirões e, entre espancar um ou outro ajudante que cometesse erros, suportar por horas temperaturas de 50ºC.

Hoje a situação mudou um pouco --carnes já chegam porcionadas, água já sai quente da torneira, fogões liberam menos calor. Também está fora de moda agredir fisicamente os subalternos.

Mas não é só por isso que chefs mulheres têm ganhado destaque. O fato é mais amplo: o papel da mulher mudou no mercado de trabalho em geral. Ainda há cozinheiros que se mostram constrangidos ao receber ordens severas de uma chef --mas é algo que deve acontecer com os brios masculinos em qualquer ambiente de trabalho onde as mulheres estão no comando.

Ocorre, porém, que mesmo ocupando mais espaço, elas ainda são minoritárias no comando (nos cargos de governo, nas chefias de empresas).

No entanto, as cozinhas podem ser um ambiente privilegiado para elas. Não conheço estudos que o confirmem, mas muitas mulheres parecem revelar um dom especial para tratar com afeto e paixão o gesto de produzir o alimento e de alimentar semelhantes.

Algo de uma vocação inata para nutrir? Muitas acharão machismo supor que elas não sejam iguais (mesmo que melhores). Mas de fato me parecem diferentes. Se já conhecemos o talento de tantos chefs homens, está claro que chefs mulheres podem ser do mesmo escalão --e que o toque feminino, sem ser pior ou melhor, pode ser interessantemente delicado e sedutor.


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