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Produtores de orgânicos pedem ajuda para crescer

Debate aponta distribuição e fiscalização como gargalos para o setor

Chefs veem diferenciais no sabor, mas professora diz que orgânicos não podem ser considerados mais nutritivos

GUSTAVO SIMON DE SÃO PAULO

Governantes, consumidores e chefs têm papel decisivo para disseminar a cultura de alimentos orgânicos no Brasil, que cresce a cada ano.

Segundo o governo federal, houve crescimento de 22% no ano passado no cultivo desse tipo de alimento. Hoje, há mais de 6.700 produtores certificados. O consumo também cresce entre 30 e 40%, segundo a Organics Brasil, projeto de promoção internacional do setor.

A união de forças foi um ponto central do bate-papo sobre o tema promovido pela Folha e pela CBN na manhã do último sábado, no teatro da Livraria Cultura do Conjunto Nacional (SP).

"Quem puxa a cadeia é o consumidor; nada adianta se ninguém consumir", disse José Barattino, chef-executivo do grupo St. Marche.

A discussão do papel do poder público veio à tona depois da notícia, informada ao vivo durante o evento, do fechamento da feira de orgânicos do parque Ibirapuera --a prefeitura alega que, como o parque foi convertido em centro esportivo, não pode mais receber feiras de comida.

A chef Tatiana Cardoso, do Moinho de Pedra, completou: "A prefeitura está atrapalhando em vez de ajudar; poderia destinar espaços em feiras livres para orgânicos, mas nem isso é feito".

Dificuldades de distribuição são consideradas um dos principais gargalos para essa cadeia de produtores.

"Eu moro em Araraquara e preciso comprar orgânicos no supermercado, porque não há feiras especializadas perto de casa", disse Magali Monteiro, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp.

Sem contato direto com o produtor, pode ser difícil ter segurança do modo de produção de um alimento --a fiscalização é outro gargalo.

"Se o produtor quiser enganar o consumidor, ele engana; a fiscalização não funciona sempre e a certificação ajuda, mas não resolve", disse Dercílio Pupin, líder da Família Orgânica, grupo de pequenos produtores do interior de São Paulo. "Como o que queremos é estabelecer uma nova relação de consumo, a confiança faz a diferença."

QUALIDADE

Apesar de mais caros --para Pupin e Tatiana, o preço se deve a um "valor que não vem na embalagem", que considera toda a cadeia de produção--, orgânicos podem apresentar, segundo os participantes, diferenças no gosto.

Tatiana Cardoso, que acha que os vegetais sem agrotóxicos têm "tamanho normal" (e que os convencionais são "grandes demais"), relatou que já viu maços de brócolis orgânicos permanecerem verdes e viçosos por 12 dias na geladeira.

"Na cozinha, vejo diferenças gritantes em alimentos como couve, alface e tomate orgânicos", disse Barattino. "Mas não se pode generalizar; com carne e frango, a diferença já não é tão grande".

A professora Magali Monteiro lembrou que, em suas pesquisas, sucos de maracujá orgânico tiveram mais aceitação de consumidores do que os da fruta convencional.

"Mas, do ponto de vista científico, não podemos afirmar que orgânicos têm sabor diferente, nem que contêm mais nutrientes", afirmou.

A fala gerou ruídos na plateia, que lotou o teatro. "Uma coisa é a percepção de cada um, outra são os estudos. O tema ainda é controverso."

A pesquisadora lamentou que o tema seja objeto de poucos estudos e até de certa resistência na universidade.

O bate-papo, mediado por Luiza Fecarotta, editora dos cadernos "Comida" e "Turismo", e Fabíola Cidral, âncora do "CBN São Paulo", teve participação da cantora Badi Assad.


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