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Depoimento

Viver longe da cozinha natal desenvolve engenho e paciência

LOURDES HERNÁNDEZ ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando meu marido Felipe e eu chegamos em São Paulo, há 13 anos, eu achava que ia comer o mundo duma mordida só. Queria saber tudo, o bom e o ruim sobre o Brasil, país que tinha amado apaixonadamente. Estar aqui era a maior felicidade.

Como se isso não bastasse, a gente chegou para difundir nossa cultura e, nos primeiros três anos, trouxemos do México chillis, tequilas, mezcales, lesmas, canções, formigas, tortillas coloridas...

O engraçado foi que, querendo saber tudo sobre minha paixão brasileira, comecei a resolver dívidas que tinha com a minha própria língua e a ler receitas e a história de meu país como um cego que, de repente, recupera a visão. E eu, que nunca tinha cozinhado comida mexicana, além de pratos sazonais, fiz uma viagem de volta.

Um dia, feliz, encontrei no mercado uma bandeja de chilli jalapeño. Mostrei a Felipe, que rapidamente ligou para os fazendeiros responsáveis. Pouco tempo depois estávamos na fazenda Ituaú, da família Abumussi. Nos anos seguintes, Cyro se dedicaria a entender a dramática vida do cultivo do chilli.

Antes, apareceram Jerusa e Luiz, pernambucanos, fazedores de tortillas. Se não fosse por essas vontades individuais, o mundo seria outro.

Viver longe da pátria gastronômica desenvolve o engenho e a paciência. E foram essas pessoas e outras, nos mercados e nas feirinhas, que me ajudaram a localizar ingredientes. Nem o ócio nem a riqueza são geradores da grande cozinha.

A necessidade é uma professora exigente, exercita a imaginação com mão severa, foge das frescuras, mas mantém essa pitada de rebeldia.

Inevitável perceber o parentesco entre nossos pratos ibéricos. (A raiz que mais homogeneíza a nossas cozinhas latino-americanas.) Técnicas, produtos e linguagem se naturalizam, viram o próprio.

Conhecer é mudar (corromper, diriam os mais puristas), a singularidade de determinados temperos é nossa marca indelével, mas que pode virar fardo se deixamos ser apenas nostalgia passiva.

Leia o relato na íntegra em
folha.com/comida


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