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Crítica livro

Livro abre apetite, mas não chega a matar a fome

JOSIMAR MELO CRÍTICO DA FOLHA

O novo livro de Ricardo Maranhão, "Gente do Mar", é um pouco difícil de definir. Não é livro de história, como outros já escritos pelo autor. Tampouco é de gastronomia, menos ainda de receitas, embora bordeje os assuntos.

É mais um mosaico. Seu objeto são as comunidades de pescadores do litoral brasileiro --sim, elas ainda existem. E nisto é saboroso.

Apoiando-se em depoimentos de pescadores do Pará ao Rio Grande do Sul, mais do que em documentos, faz instantâneos dessas comunidades que restam e ainda pescam os peixes que restam.

É um pot-pourri em que se misturam caiçaras, caboclos, cafuzos, peixadas, azul-marinho, arroz de cuxá e congadas, tentando delinear traços de culturas diversas que têm em comum uma história de sobrevivência ligada à pesca, onde se inclui a gastronomia dela derivada, com várias particularidades regionais.

Mas o que se faz é um sobrevoo sobre essas comunidades, como uma reportagem retratando sua vida, aqui e ali apoiada por informações históricas ou etnográficas.

Se o livro tem sabor, não chega a matar a fome de quem com ele abre o apetite. O relato é fluido e cativante, mas não traz informações ou análises sistemáticas (nem das comunidades nem dos vários personagens que dão seus depoimentos, dos quais às vezes sabemos pouco mais que o nome ou apelido).

Também menciona, mas não se detém nos tipos de peixe, que eventualmente ocorrem em várias regiões com nomes diferentes. As receitas e técnicas, quando mencionadas, o são também na forma de relatos, sem precisão.

É livro de se ler num fôlego só, deleitando-se com um mundo que, como turistas, provavelmente todos já avistamos. E com cujos personagens (talvez hoje na forma de caseiros, donos de boteco) já teremos cruzado, mas cujas particularidades provavelmente pouco conhecemos.

Entre as questões que a leitura suscita (mas não aborda) fica a de pensar qual futuro esperam essas comunidades. Se a existência da pesca em qualquer nível está em questão (já que a existência de peixes selvagens pode estar com dias contados), não estará o seu modo de vida definitivamente condenado?


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