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Restaurante de Tóquio ajuda Fukushima

Pescadores e agricultores recebem auxílio de dono de restaurante para reconquistar o mercado depois do tsunami

Um dos maiores problemas do desastre foi a contaminação de alimentos com alto nível de radiação

JUSTIN MCCURRY DO “GUARDIAN”

O riso dos convivas no restaurante de Kenji Suzuki, em Tóquio, flui com a mesma facilidade de sempre. Os convivas elogiam o frango, os legumes e o tofu, servidos em caldo borbulhante.

A exuberância deles é incomum, não só porque a semana de trabalho começou ontem mas porque todos os pratos da refeição foram preparados com ingredientes que muitos japoneses vêm fazendo todo o possível para evitar nos últimos 20 meses.

Em uma era na qual os adeptos da gastronomia fazem questão de conhecer a proveniência de sua comida, o exemplo estabelecido por Suzuki é difícil de superar. Cerca de 80% de seu cardápio -carne de porco, picles, saquê- provêm de Fukushima.

Quando foi inaugurado, um ano atrás, as perspectivas do 47 Dining pareciam sombrias. O plano de Suzuki desafiava a lógica: oferecer pratos produzidos com ingredientes obtidos principalmente de sua cidade natal, Iwaki, a apenas 30 quilômetros da usina nuclear Fukushima Daiichi que, naquela altura, ainda estava em situação perigosa depois do colapso e derretimento parcial de três de seus reatores, no desastre de 11 de março de 2011.

"O plano era abrir em abril deste ano, mas o tsunami e o acidente nuclear mudaram tudo", disse Suzuki, 30.

Logo que se certificou de que seus pais estavam seguros, depois de serem arrastados em seu carro pelo tsunami, a atenção de Suzuki retornou aos seus negócios, iniciados em 2009 com um furgão que vendia produtos agrícolas da região de Fukushima pelas ruas de Tóquio.

"Nas semanas seguintes ao desastre, os produtos de Fukushima não chegavam ao mercado", diz. "Depois, vi que o tsunami havia destruído os portos e arruinado o setor de frutos do mar e a agricultura. Comecei a pensar no que poderia fazer para ajudar."

O que havia começado como um projeto de negócios puro e simples se tornou uma missão de ajuda aos pescadores e agricultores de Fukushima. "A maioria das pessoas parecia acreditar que todos os produtos de Fukushima haviam sido contaminados."

CONTAMINAÇÃO NUCLEAR

Os planos de Suzuki não foram facilitados quando, um mês depois da abertura do restaurante, testes determinaram que carne bovina de Fukushima que continha presença anormalmente elevada de césio havia sido processada e consumida.

A confiança nos produtos agrícolas de Fukushima voltou a ser abalada em novembro, quando amostras de arroz de algumas partes da prefeitura apresentaram níveis de césio superior às normas governamentais. Fukushima, no passado fonte da carne bovina, das frutas e dos frutos do mar mais procurados do Japão, estava maculada pela contaminação nuclear.

Suzuki recebeu telefonemas anônimos acusando-o de contaminar Tóquio e envenenar os clientes. Algumas semanas depois de inaugurado, o restaurante estava praticamente vazio.

"As pessoas assistiam ao noticiário e decidiam que o risco não valia a pena, mesmo que não servíssemos coisa alguma que não tivesse sido testada e considerada segura", conta Suzuki, que vive em Tóquio há dez anos.

O restaurante só compra produtos em mercados nos quais o material vendido atende aos critérios governamentais de contaminação por isótopos radiativos.

No 47 Dining, a carne de frango, porco, boi e cavalo à venda provém de Fukushima, assim como o arroz e a maioria dos legumes. Por trás do balcão, há fileiras e mais fileiras de garrafas de saquê produzidas na região.

Uma exceção notável são os frutos do mar. O consumo de polvos e búzios de Fukushima foi liberado algumas semanas atrás. Depois de testes nos mercados locais esses produtos voltaram a ser vendidos no mercado de Tsuji, em Tóquio.

Os pescadores ainda continuam proibidos de trabalhar em uma vasta área do oceano Pacífico ao largo de Fukushima. No mês passado, um estudo publicado pela revista "Science" constatou que os níveis de radiação continuam elevados nas águas próximas da usina destruída. Alertou que peixes de grande porte e profundidade talvez tenham de ser excluídos de consumo por uma década.

Por enquanto, Suzuki vem comprando peixes pescados nas águas das prefeituras de Miyagi e Iwate, onde vivia a maioria das 19 mil pessoas que morreram com o tsunami, e da ilha de Hokkaido, no extremo norte do Japão.


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