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Análise
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Medo faz parte do cotidiano das cidades brasileiras
JULIO JACOBO WAISELFISZ ESPECIAL PARA A FOLHAO medo é parte do cotidiano das cidades brasileiras. Pesquisa de 2012 do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apontou que 62% dos moradores do país têm "muito medo" de serem assassinados e 23%, "um pouco de medo". Só 14% manifestaram "nenhum medo".
Esse temor é justificado. As 52.260 vítimas de homicídio contabilizadas pelo Ministério da Saúde em 2010 -70% por armas de fogo- fazem do Brasil o país com o maior número de assassinatos do planeta, com índices que superam mortes em guerras.
Em 2012/13 divulgamos uma série de Mapas da Violência. Em síntese, podemos destacar os seguintes pontos:
1) Os elevados índices de homicídios de crianças e adolescentes: o país ocupa o quarto lugar entre 92 países. E também de mulheres: sétima colocação entre 84 países;
2) A alta vitimização de negros e de jovens, cujas mortes vêm crescendo.
3) Mudança significativa nos padrões da violência homicida: se até fins da década de 1990 o crescimento se concentrava nas regiões metropolitanas, de 2000 a 2010 a violência regride nessas regiões, mas espalha-se pelo país.
5) As seis capitais que em 2000 eram as mais violentas -Recife, Vitória, Cuiabá, São Paulo, Porto Velho e Rio de Janeiro- diminuem suas taxas de forma significativa;
6) Nas 11 capitais menos violentas em 2000 as taxas crescem. De forma acelerada em Fortaleza, Curitiba, Belém, São Luís e Salvador.
Vários fatores concorrem para explicar esse processo:
No ano 2000 foi implantado o Plano Nacional de Segurança Pública, que priorizou política e financeiramente essas metrópoles mais violentas.
O processo de desconcentração econômica também deslocou a criminalidade.
Há ainda a impunidade: pesquisas apontam que menos de 5% dos autores de homicídio são punidos. A taxa em países avançados supera 60%.