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Pinel agora tem drogas e furtos, acusa Promotoria
Para Ministério Público, tratamento de viciados atrapalhou rotina do hospital
Promotores moveram ação para retirar de lá dependentes de crack; Estado diz que acusação é mentirosa e ofensiva
O Ministério Público de São Paulo afirmou ontem que funcionários do hospital psiquiátrico Pinel, em Pirituba (zona norte), para onde o governo tem encaminhado dependentes da cracolândia, relataram que há consumo de drogas dentro do local, além de brigas e casos de furtos.
O Pinel, voltado ao atendimento de pacientes psiquiátricos em surto, passou a receber dependentes de drogas em janeiro, quando o Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas) começou um plantão judiciário para internações à força.
Os relatos dos funcionários fazem parte de uma investigação do Ministério Público, que apresentou ontem ação civil pública contra o Estado. A Promotoria quer que os leitos do Pinel voltem a ser usados por pacientes psiquiátricos.
A Secretaria Estadual da Saúde chamou a afirmação de "mentirosa" e "ofensiva".
Segundo a Promotoria, os relatos dos funcionários mostram que não houve treinamento adequado para atender esses pacientes e, por isso, a equipe não consegue coibir o consumo de drogas e brigas.
A estrutura do hospital, que fica em um terreno aberto e arborizado, também facilita a fuga de pacientes e a entrada de drogas no local.
"Os funcionários contam que o Pinel se transformou em um campo de batalha", diz a promotora Luciana Bergamo, da Infância e da Juventude. "Eles contam que os pacientes passaram a usar drogas."
A Folha esteve no Pinel ontem e conversou com quatro funcionários, que pediram anonimato e confirmaram em parte a versão do Ministério Público. Um deles disse que "sente cheiro de maconha sempre" no local.
Nenhum deles, entretanto, afirmou ter visto o consumo de drogas. Dizem ter ouvido relatos de outros funcionários que presenciaram.
Todos afirmaram ainda que há casos de fuga há pelo menos dois meses, o que foi confirmado por vizinhos
"Eles escalam o muro e pulam. Saem, ficam na rua e depois pulam de volta", afirmou Kátia Dayoubi, 42.
Vizinhos disseram ter visto uso de maconha e crack na rua, mas não souberam dizer se os usuários eram do Pinel.