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Policiais ignoram norma e socorrem ferido, que era PM

Policial reformado, baleado por ladrão durante assalto, é socorrido em Moema

Resolução proíbe policiais militares de socorrerem vítimas de crimes; secretaria diz que vai apurar o caso

(ANDRÉ CARAMANTE) LAURA CAPRIGLIONE DE SÃO PAULO

Registro em vídeo (sem som) feito por uma câmera de segurança em Moema, bairro nobre na zona sul de São Paulo, mostra policiais militares descumprindo resolução do governo ao socorrerem um homem baleado por ladrões, em vez de chamar o resgate.

As imagens mostram uma tentativa de roubo de carro. O motorista baleado ainda consegue revidar com um tiro, mas os ladrões fogem. A ação acontece em poucos segundos, às 21h08.

O primeiro carro da Polícia Militar chega ao local do crime cinco minutos depois. Durante 5 minutos e 50 segundos, os soldados nada fazem para socorrer a vítima, que sangra abundantemente. Parecem aguardar o Samu ou outro serviço especializado.

Os PMs vasculham os bolsos do baleado, que caiu de bruços, e o veículo Toyota Camry que ele dirigia.

O vídeo mostra, porém, uma mudança na atitude dos policiais a partir do momento em que um soldado retira do bolso da vítima uma carteira de documentos.

Um facho de luz ilumina a cena. O soldado usa a luz para examinar os documentos. A vítima era Edson Luiz Camargo da Cunha, 47, policial militar reformado, que trabalhava como segurança.

O soldado que examina os documentos fala com seus colegas e, de repente, os cinco PMs que aparecem no vídeo cercam o ferido.

Rapidamente, os policiais decidem removê-lo. Um carro de polícia leva o ferido ao Pronto-Socorro do Hospital São Paulo (zona sul).

Durante dez minutos e 50 segundos, Cunha ficou jogado no chão. Pelo menos 10 minutos a mais foram consumidos no transporte entre o local do crime e o hospital.

Às 21h35, o ferido teve uma parada cardiorrespiratória. Até tentaram reanimá-lo, mas sem sucesso.

OMISSÃO DE SOCORRO

O vídeo foi gravado no dia 10 de janeiro, três dias depois de o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, ter assinado a Resolução SSP-05 que determina que, em casos de lesões corporais graves, os policiais que primeiro atenderem a ocorrência deverão preservar o local do crime até a chegada da perícia e, em vez de socorrer o ferido, devem acionar imediatamente a equipe do resgate, Samu ou o serviço de emergência.

"O que o vídeo sugere fortemente, é que os policiais que atenderam a ocorrência só se dispuseram a socorrer o ferido quando perceberam que se tratava de um colega de farda", disse à Folha a advogada criminalista Roselle Adriane Soglio, 37, recém-chegada de um curso de perícia forense na Universidade George Washington (EUA).

Segundo a advogada, a polícia fez tudo errado neste caso. "O que se vê no vídeo é que os policiais nem ofereceram socorro (e tratava-se de um caso emergencial), nem preservaram a cena, já que eles mesmos vasculharam o carro e a vítima, além de terem permitido a permanência de populares no local."

Para piorar a situação, se fosse esperar pela chegada do Samu, a vítima teria morrido na calçada mesmo. Não existe, nos registros do Samu, nenhum pedido de socorro para vítima na rua dos Guaramomis (onde ocorreu o crime) em janeiro de 2013. A informação é da Secretaria Municipal de Saúde, operadora do Samu na cidade.

A Secretaria da Segurança Pública disse por meio de nota oficial que "já abriu investigação para apurar as circunstâncias das ocorrências relatadas pela reportagem.

Segundo o promotor de Justiça Luiz Roberto Faggioni, a resolução do secretário Grella "gerou o caos". "Se tenta salvar, o policial pode ser punido. Se não tenta, pode condenar feridos à morte por omissão de socorro."


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