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Marcos Augusto Gonçalves

Novos gringos

Ouve-se com mais frequência gente falando outras línguas em São Paulo, que já foi uma babel de imigrantes

No parque, no supermercado, no shopping, nas ruas. As vozes ao redor falam com mais frequência línguas estrangeiras ou estou ouvindo coisas? Embora nas estatísticas do IBGE o número de residentes nascidos fora do país decline no Estado de São Paulo, outros dados e situações confirmam a sensação de que há mais estrangeiros em circulação.

Cresce, por exemplo, a concessão de vistos de trabalho para gringos qualificados no Brasil. No ano passado, foram 73.022 autorizações, sendo 64.682 temporárias e 8.340 permanentes. Nos últimos três anos, vistos para profissionais com vínculo empregatício aumentaram 137%.

Com a crise na Europa, a presença de turistas portugueses e espanhóis caiu, mas engrossou o fluxo dos que vêm de lá em busca de trabalho. São Paulo, com sua relevância econômica, recebe grande parte desses novos imigrantes. Isso sem falar nos ilegais, que não vão a shoppings e lugares badalados, mas fazem parte da paisagem do centro da cidade, onde come-se num bom sujinho peruano instalado ao lado de um correlato árabe.

E só faz florescer a Little Africa, que há anos se instalou no pedaço com seus bares, restaurantes e figuras que parecem ter nascido com celulares colados nas orelhas.

Ultimamente os haitianos passaram a fazer companhia aos africanos, latino-americanos e asiáticos. Na semana passada, cerca de cem deles foram obrigados a abandonar, por decisão judicial, um prédio que se tornara uma espécie de "república" comunitária, onde viviam de pedreiros a sociólogos.

Se o Rio de Janeiro é o principal destino de turismo de lazer do país, não é demais lembrar que São Paulo recebe mais visitantes.

Não, obviamente, pelo balançado da garota dos Jardins, mas por possuir os principais aeroportos, ser o centro financeiro e industrial e ter uma agenda gigantesca de eventos de negócios -com uma oferta cosmopolita e boa de restaurantes, programas culturais e night.

Em 2012, desembarcaram em São Paulo 2,1 milhões de visitantes estrangeiros; no Rio, 1,2 milhões e no país, 5,8 milhões.

Diante do aperto no mercado de trabalho, o governo federal está se mexendo para facilitar e incentivar a imigração de profissionais estrangeiros. Faltam médicos, engenheiros, técnicos. O que faz lembrar os tempos em que São Paulo assumiu a liderança da importação de mão de obra europeia, na passagem do século 19 para o 20.

A importação de força de trabalho foi durante anos organizada por empresas, como a Sociedade Promotora de Imigração, que atendia diretamente aos interesses dos produtores de café, como a família Silva Prado. Os imigrantes eram selecionados, transportados, hospedados e encaminhados às fazendas.

Com a urbanização da capital e o florescimento da indústria, o fluxo explodiu e a cidade, que crescia vertiginosamente, tornou-se uma pequena babel. Falava-se italiano por todos os lados, o francês era obrigatório nas famílias educadas, e ouvia-se pela ruas gente conversando em árabe, hebraico ou alemão.

A perspectiva de que mais estrangeiros venham para cá faz pensar em quanto ainda estamos despreparados para recebê-los, em termos de infraestrutura, educação e informação. Dá para imaginar o que deve sofrer um gringo desenturmado em São Paulo?


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