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Análise
Salário, sozinho, não é capaz de fixar médicos nas cidades
MÁRIO SCHEFFER ESPECIAL PARA A FOLHAApesar do crescimento exponencial do número de médicos no Brasil --de 60 mil em 1970 para 400 mil em 2013-- a presença e a fixação desses profissionais são prejudicadas por três principais fatores: má distribuição geográfica, "disputa" entre o setor privado e o SUS e dificuldade de formação adequada às necessidades de saúde da população.
Os dados foram apontados no estudo Demografia Médica no Brasil, divulgado no início deste ano, que fez um raio-x de quem são e onde estão os médicos do país.
Os brasileiros que moram nas regiões Sul e Sudeste contam, em média, com duas vezes mais médicos do que os das demais regiões.
E quem vive em uma capital conta com ao menos duas vezes mais médicos do que quem mora no interior.
Os profissionais também estão proporcionalmente mais concentrados na rede privada. Quem tem plano de saúde, o equivalente a 25% da população do país, tem quatro vezes mais médicos à sua disposição do que quem depende exclusivamente dos serviços públicos.
Além disso, mais de 180 mil médicos não têm especialidade, pois não há vagas de residência nem para metade dos recém-graduados.
Salário, sozinho, não fixa médicos. Condições de trabalho, plano de carreira, oportunidade de continuar a formação e qualidade de vida são fatores mais decisivos.
A ausência de médicos em pequenos municípios e as equipes desfalcadas na maioria dos serviços do SUS são problemas ligados à falta desses quesitos.
Pelas nossas projeções, já em 2020, o Brasil terá meio milhão de médicos formados por mais de 200 escolas.
Mas sem mudanças substantivas nos rumos do sistema de saúde, sem mexer nas raízes das desigualdades, novos médicos, brasileiros ou estrangeiros, irão, na primeira oportunidade, seguir a rota dos grandes centros, do setor privado e das especialidades lucrativas.