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Amigos se despedem de Tatiana Belinky

Escritora se dividiu entre peças, versões para TV e criações originais

Nascida na Rússia, autora de literatura infantil tinha 94 anos e morreu anteontem; obra supera 200 títulos

MÔNICA RODRIGUES DA COSTA ESPECIAL PARA A FOLHA

Foi enterrado ontem à tarde, no Cemitério Israelita da Vila Mariana (zona sul de São Paulo), o corpo da escritora Tatiana Belinky, que morreu no sábado, aos 94 anos, de causa não divulgada.

Mais cedo, cerca de 80 pessoas estiveram no velório, na casa dela, no Pacaembu (zona oeste). Segundo amigos, Belinky havia sofrido um AVC (acidente vascular cerebral) há pouco e desenvolvera um princípio de pneumonia.

Ao longo da carreira, ela se dividiu entre os ofícios de poeta, contista, tradutora, roteirista, dramaturga e crítica de teatro e literatura infantis.

Em mais de 200 livros, Belinky inventou um mundo de aventuras completo, salpicado de prosa e poesia sempre bem-humoradas.

Quem não se lembra do livro "Dez Sacizinhos" (1998)? Ou das peripécias de "A Operação do Tio Onofre" (1985), em que crianças e adultos brincam de mudar o nome das coisas? Já em "Que Horta!" (1987), a autora se põe a inventar plantas engraçadas ao modo de Edward Lear (1812-1888), como "rabamate" e "palmipolho".

Além das criações originais, são notáveis as adaptações que Belinky assinou de obras e mitos estrangeiros, como "A Saga de Siegfried" (Companhia das Letrinhas), "O Nariz" (Ática), a partir do conto do russo Nicolai Gógol, e "Di-versos Alemães" (Scipione), com quatro traduções de poemas de Goethe.

Também verteu ao português textos de Turguêniev, Tolstói, Púchkin, Tchékhov, Makarenko, Kipling e Dickens, entre outros.

A escritora tornou célebres entre as crianças os "limeriques", estrofes rimadas e levemente cômicas decalcadas dos "limericks" ingleses do século 19, cujo representante maior foi Lear, precursor de Lewis Carroll (1832-1898), outro autor que Belinky transpôs ao português.

Os tais versos se desdobraram em "Medoliques", "Cacoliques", "Bisaliques", "Bregaliques", "Mandaliques e "Limeriques da Cocanha".

ORIGEM RUSSA

No livro de memórias "Transplante de Menina", ela retraça sua chegada ao Brasil, aos dez anos, em 1929, vinda de Riga, na Letônia. Ela nascera na russa Petrogrado (hoje São Petersburgo).

Em 1948, Belinky fundou o Teatro-Escola de São Paulo. Há registros de que a primeira montagem voltada ao público mirim paulistano, um "Peter Pan", teria estreado ali ainda naquele ano.

Em 1952, ela e o marido, o educador Julio Gouveia (1914-1988), adaptaram para a TV Tupi "O Sítio do Picapau Amarelo", de Monteiro Lobato. Tratou-se da primeira transposição da obra para a tela. O casal também produziu telepeças para o "Teatro da Juventude" (Tupi).

No campo institucional, nos anos 1960, Belinky presidiu a Comissão Estadual de Teatro de São Paulo e, no âmbito desta, foi líder da Comissão de Teatro Infantojuvenil Na década seguinte, colaborou para a Folha com resenhas de livros e espetáculos infantis.

PRÊMIO JABUTI

Em 1989, recebeu o Prêmio Jabuti na categoria de personalidade literária do ano; em 1991, ganharia distinção da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança.

Mantendo até há pouco publicações em diferentes casas editoriais, Belinky assinou versos a um só tempo prosaicos e vivazes. Como estes, pinçados de "Limeriques das Coisas Boas": "O parque, o jardim, a floresta.../ Na rede, um gosto de sesta.../ Na escola, no lar,/ Brincar e sonhar.../Viver pode ser uma festa!".

Belinky deixa um filho, o jornalista, tradutor e escritor Ricardo Gouveia.


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