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País em protesto
'Estão entrando', diz servidora durante tentativa de invasão
Funcionários assistem das janelas da prefeitura ao ataque de manifestantes e se assustam com violência
Secretários reuniram-se em 'sala de crise' e acompanharam por telões imagens da rua; Haddad já havia saído
A tentativa de invasão à Prefeitura de São Paulo, na região central da cidade, deixou funcionários apavorados e o clima tenso no início da noite de ontem. A Folha estava no prédio e acompanhou os momentos de aflição.
"Estão entrando, estão entrando", repetia uma assessora do prefeito Fernando Haddad (PT) aos poucos servidores presentes enquanto manifestantes forçavam a entrada no prédio.
Alguns recebiam telefonemas de colegas que já haviam deixado o local. "Estão tentando invadir a prefeitura e você preocupado com isso?", respondeu um graduado assessor do prefeito ao interlocutor do outro lado da linha.
Barulhos de helicóptero, gritos e assobios adicionavam tensão ao cenário.
Um estrondo similar ao da explosão de uma bomba assustou quem ainda dava expediente. Um cheiro forte entrou pelas portas e janelas, levantando suspeitas de que se tratava de gás de pimenta. Uma das funcionárias ficou com os olhos irritados.
Muitos observavam das janelas a tentativa de invasão. Além disso, havia vários aparelhos de televisão sintonizados em canais diferentes.
Enquanto uns tentavam derrubar as grades, outros gritavam "sem violência, sem violência". Os que preconizavam o ataque diziam: "sem burguesia, sem burguesia".
Cem guardas-municipais protegiam o prédio. De dentro, era possível ouvir o barulho das pedras arremessadas.
No momento do ataque, Haddad já havia deixado o gabinete para se reunir com a presidente Dilma Rousseff.
Mas a vice Nádia Campeão permanecia no local, assim como os secretários Antonio Donato (Governo), Roberto Porto (Segurança Urbana), Luis Maçoneto (Negócios Jurídicos), Chico Macena (Subprefeituras) e Nunzio Brigulio (Comunicação).
Eles reuniram-se em uma sala de crise, com amplos telões que exibiam imagens de câmeras da avenida Paulista, do entorno da prefeitura e de outras ruas. Participavam ainda coronéis da PM e da Guarda Civil Metropolitana.
A exibição das cenas incomodava: volta e meia, alguém se assustava achando que a tentativa de invasão se repetia. Integrantes da equipe de Haddad culpavam "infiltrados da direita" pelo ataque.
Por volta das 20 horas, o secretário Roberto Porto perguntou a Donato: "Não é melhor tirarmos a Nádia [vice-prefeita] daqui? O helicóptero Águia pode levá-la".
Donato pediu calma. "Não vai acontecer nada. Temos cem caras lá, será que não conseguem segurar 40?"
A intenção era não chamar reforços, adotando a mesma estratégia do governador Geraldo Alckmin (PSDB) durante a tentativa de invasão do Palácio dos Bandeirantes na noite de anteontem.
Porto apoiava a decisão, mas seguia preocupado. "Vamos segurar, vamos segurar, agora é a hora de mostrar", dizia ele pelo celular.
Passado o susto, o secretário disse ter vivido "momentos terríveis".
"Foi uma cena de guerra, com chuva de pedras e vidro quebrado para tudo quanto é lado. O térreo da prefeitura está destruído. Uma das pedras bateu na minha perna. Se batesse na minha cabeça, estaria morto. Estivemos muito próximo de invadirem o prédio e queimarem tudo."