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Opinião

Uma possível agenda para a crise instalada no Brasil

MARCELO COELHO COLUNISTA DA FOLHA

Não acho que jornalista deva dar conselho a ninguém, mas me preocupa a profundidade da crise. Acho que a presidente Dilma acertou, no geral, quanto ao tom e ao conteúdo do seu discurso ontem. Mas talvez as respostas tenham de ser mais profundas.

Por mais que sejam variados os lemas e palavras de ordem dos manifestantes, o fato básico é que eles não se veem representados nem atendidos pelo Congresso, pelas prefeituras, pelos governadores e pelo Executivo Federal.

Acho que há espaço para uma série de iniciativas capazes de recuperar ""e sanear--as instituições políticas, antes que o descrédito seja completo e a única resposta possível seja o aumento da repressão.

Cito algumas, só como exemplo, porque o conteúdo específico de cada item poderia ser discutido conforme o gosto do governante.

1. Um esforço pela austeridade pessoal. O presidente uruguaio, Pepe Mujica, não usa carro oficial, não mora em palácio e se veste como um jeca. Era tempo de políticos brasileiros seguirem o exemplo.

2. A retomada, no nível federal, da faxina dos ministérios intentada inicialmente pela presidente. As forças políticas mais sérias do país estão reféns de uma "base parlamentar" que pode ser útil no dia a dia, mas é o principal empecilho para a resolução da crise.

3. Uma iniciativa mais concreta de reforma política. Nem sei se o financiamento público de campanhas é o melhor método. Mas é preciso responder à desmoralização de um sistema em que os representantes eleitos pelos cidadãos se tornam representantes das empresas que contribuíram para seu caixa de campanha.

4. Na questão da educação, bem atendida pela proposta presidencial de dedicar 100% dos royalties de petróleo a essa área, acho que nada se fará sem um aumento radical do salário de professores. Mesmo com o aumento de impostos que teria de haver.

5. Uma real abertura para os movimentos populares. Por que os prefeitos não convidam alguém próximo do Movimento Passe Livre para a Secretaria dos Transportes? Em nome de que lógica partidária esses cargos são loteados?

6. Não é que os manifestantes não saibam o que querem. Querem coisas demais. Se há propostas de reforma em todas as direções, e se o sistema político está em descrédito, seria necessário dar vazão e forma institucional ao debate que está nas ruas. Seria o caso, a meu ver, de convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, com fins específicos (reforma política, reforma previdenciária etc.), para a qual poderiam candidatar-se cidadãos mesmo sem filiação partidária.

O fundamental é encontrar, para a vontade de mudança, um caminho político. Caso contrário, ou teremos paralisia ou as formas mais despolitizadas e selvagens de protesto.


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