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Análise

Rejeição de interlocutores ameaça legado dos protestos

LUCIANA COELHO DE SÃO PAULO

Os manifestantes que saíram às ruas do Brasil nas duas últimas semanas têm lições a tirar do Occupy Wall Street, movimento que chacoalhou o debate político nos EUA em 2011 e 2012 e desde então viu sua relevância se dissipar sem legado maior.

A maior delas: por mais poderosa que seja uma massa, ela não pode se dar ao luxo de rejeitar interlocutores.

A dimensão e a ressonância dos protestos, a polarização política dos dois países e a pulverização de demandas tornam a comparação automática (e, sim, lá houve vandalismo por uma minoria, mas menos disseminado).

Tanto que na última semana o Occupy publicou em seu site um texto de apoio ao movimento brasileiro.

Outro ponto comum foi ter criado um debate sobre realidades distintas.

No caso americano, sobre a desigualdade, por muito tempo assunto restrito ao círculo acadêmico e de ativistas.

No brasileiro, a cola por trás do quebra-cabeças é menos clara, mas pode ser resumida, talvez, na dissonância entre o país que virou "hype" em manchetes internacionais e aquele onde ainda há muito a consertar.

O fato de a sensação sobrepor-se à mensagem pode ser um começo ou um fim.

Nos EUA, foi um fim. Em outubro de 2011, quando o movimento americano tinha apenas um mês de vida, a Folha ouviu de um líder de sua ala de Washington que o objetivo, naquele primeiro momento, era "atrair as pessoas para a conversa", pois o país até então só "exigia soluções sem debater os problemas".

ESQUERDA

O recado, nos EUA, guardava clara identificação com a esquerda, sob a bandeira da desigualdade crescente, e era alimentado por recém-formados desempregados.

Tomava como alvo o sistema financeiro, simbolizado pela rua que abriga a Bolsa de Valores de Nova York, Wall Street, perto da qual os manifestantes acamparam.

No Brasil, a insatisfação ainda soa geral e genérica, assim como a massa que lhe deu voz. No primeiro momento, isso tem facilitado a adesão. Em um passo seguinte, arrisca transformar tudo em ruído.

A horizontalidade da liderança e o crescimento orgânico dos protestos também repetem a versão americana. Nos EUA, nunca se forjou uma lista de demandas nem se conseguiu estabelecer interlocutores. Havia assembleias onde a insatisfação contra o "sistema" era palpável, mas nunca organizada em metas ou prioridades.

Políticos eram rejeitados em bloco, o que impediu o estabelecimento de diálogo.

Aos 21 meses de vida, o movimento pouco aparece na mídia. Quando é discutido, a história contada é a da crise de identidade adolescente de uma criança promissora.


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