Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Flip 2013

Milton Hatoum destaca ética de Graciliano Ramos em Flip política

Autor usou trechos de obras e trajetória do alagoano para tratar de problemas crônicos do país

Para curador da festa, autor de "Vidas Secas" lançaria "olhos meio desconfiados" sobre homenagem a ele

DOS ENVIADOS ESPECIAIS A PARATY (RJ)

A "postura ética irrepreensível" de Graciliano Ramos (1892-1953), homenageado desta Festa Literária Internacional de Paraty, esteve no centro da conferência com que o romancista Milton Hatoum deu largada, na noite de ontem, à 11ª edição do evento.

Numa Flip que se propõe a realizar, segundo o curador Miguel Conde, "um esforço redobrado de pensamento sobre o momento político", trajetória e obra do autor de "Vidas Secas" (1938) permitiram a Hatoum aludir indiretamente a problemas que levaram a manifestos pelo país.

"Graciliano teve plena consciência das contradições do país e viu nelas um impasse. E uma das causas, para ele, é a ausência ou inconsistência da educação", disse, referindo-se ao uso da palavra pelo autor alagoano como uma "arma de explicação sutil".

Hatoum mesclou, numa leitura de uma hora e meia, trechos de obras do autor, como "São Bernardo"(1934), "Angústia" (1936) e "Memórias do Cárcere" (1953), com interpretações próprias e de críticos como Antonio Candido e Otto Maria Carpeaux.

A isso costurou detalhes da trajetória pessoal e profissional de Graciliano, que, nos anos 20 e 30, foi prefeito de Palmeira dos Índios (AL) e diretor da Instrução Pública de Alagoas, cargo equivalente ao de um atual secretário da Educação.

"A postura ética [de Graciliano], que subjaz à visão crítica, está a anos-luz do cinismo, da indiferença e da empáfia que ele criticou na figura de alguns de seus personagens", disse.

Hatoum lembrou ainda os célebres relatórios de prestação de contas que renderiam ao autor o convite para publicar o primeiro romance, "Caetés" (1933).

"Nesses textos já aparecem os assuntos de Vidas Secas', São Bernardo' e Infância', e a crítica ferina, o tom desabusado e as frases breves de seu estilo literário."

DESCONFIANÇA

Ao apresentar a conferência de abertura, o curador Miguel Conde disse que "Graciliano devolveria com olhos meio desconfiados o olhar de admiração que lançamos sobre ele".

"Ele era avesso a eventos solenes, como este não deixa de ser, e desconfiava da mistificação da figura do escritor, especialmente numa sociedade como a nossa, em que a cultura letrada muitas vezes serve de signo de demarcação das diferenças sociais", disse Conde.

Graciliano teria motivos de sobra para desconfiar de Paraty por estes dias.

É tema de exposição na Casa da Cultura, tem manuscritos em letras garrafais na entrada da Tenda dos Autores --o trecho de "Vidas Secas" em que a cadela Baleia, prestes a morrer, sonha em acordar "num mundo cheio de preás"-- e está entre os autores mais vendidos na tenda da Livraria da Travessa, que trouxe dezenas de títulos dele ou sobre ele.

"CAETÉS"

Durante a tarde, a editora Record lançou uma edição comemorativa dos 80 anos do livro "Caetés".

O título, escrito entre 1925 e 1928, e revisado pelo autor em 1930, narra a história de um escritor com planos de um grande livro que sucumbe à mesquinharia dos tipos de uma cidade do interior.

Segundo Ricardo Ramos Filho, neto de Graciliano, o avô, conhecido pelo pessimismo e pela autoironia, dizia que o romance não era tão bom assim, "mas tinha um ótimo prefácio" --uma referência ao texto do crítico Antonio Candido para a terceira edição da obra.

Autor nacional mais vendido da Record, com mais de 4 milhões de exemplares, Graciliano tem sido modernizado aos poucos.

Somente neste ano, 12 livros seus estarão disponíveis em formato digital.

Em 2014 será lançada edição especial de "Memórias do Cárcere". Também estão programados para o ano que vem uma coletânea de entrevistas e o lançamento de "Cangaços", volume de não ficção incluindo textos inéditos.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página