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Análise
Dúvida é saber se respaldo aos coletivos sobrevive até o fim da gestão
ALENCAR IZIDORO EDITOR-ADJUNTO DE "COTIDIANO"O prefeito Fernando Haddad (PT) foi eleito tendo como uma das principais bandeiras da campanha eleitoral um explícito aceno à classe média proprietária de automóvel: acabar com a taxa da inspeção veicular.
Agora esse mesmo público que se desloca de carro é alvo do aperto nas multas por invasão às faixas de ônibus --fiscalização considerada relevante para melhorar a fluidez do transporte coletivo.
Depois da onda de protestos que levou à redução da tarifa de R$ 3,20 para R$ 3, Haddad disse estar disposto a "comprar briga" com os carros, em benefício dos ônibus.
A guinada do discurso foi seguida de medidas como:
1) a suspensão de projetos de dois túneis (Roberto Marinho e Sena Madureira);
2) a revisão de obras viárias do Arco do Futuro, outra bandeira eleitoral do petista;
3) e a antecipação do prazo para entregar novas pistas exclusivas para ônibus.
Se a meta anterior era implantar 150 km de faixas até 2016, no final do mandato, agora são prometidos 220 km.
E tudo ainda em 2013, afetando vias relevantes na rota da classe média, como a av. Paulista e a 23 de Maio.
Reservar espaço para os ônibus, na prática, significa tirá-lo dos demais veículos --elevando os riscos de lentidão para quem está de carro.
Por mais que corredores exclusivos e Bilhete Único Mensal também já estivessem entre as promessas de campanha de Haddad, ao falar em "comprar briga" ele admite que haverá um perdedor --no caso, os automóveis.
"Uma decisão política", "difícil de ser tomada", como disse à Folha em junho.
RESPALDO
A dúvida é se Haddad resistirá às pressões e até quando a retórica a favor do transporte coletivo seguirá respaldada por ações da prefeitura.
Sob Marta Suplicy (2001-2004), na última gestão petista na cidade de São Paulo, medidas a favor dos ônibus chegaram a ser destacadas inicialmente --como os corredores exclusivos e a proposta do Bilhete Único.
O final, porém, acabou marcado pela construção de polêmicos túneis em bairros de maior poder aquisitivo, na Rebouças e na Cidade Jardim.
Uma tentativa sem sucesso, no final do mandato, de agradar a mesma elite motorizada mirada por Haddad nas últimas eleições.