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Sobre porcos e patins

Aos 66 anos, maratonista e escritora resolve aprender a andar sobre rodinhas e se desdobra para cuidar de sua 'baby'

ROBERTO DE OLIVEIRA DE SÃO PAULO

Fim de feira na Ceagesp. Um Land Rover Freelander, ano 2013, estaciona junto às caçambas. O carona sai do veículo e promove um rapa nas sobras de frutas e legumes. Sacolas cheias, uma mulher salta do carro para carregar a mercadoria.

Naquele momento, Maria Eugenia Cerqueira "engole a fina" e incorpora a "Dona Xepa". Porta-malas abarrotado, ela e Wilson Mello, seu assistente "de mil e uma" habilidades, cruzam 20 km para abastecer o freezer.

Isso não é à toa, já que ela divide a casa com um animal de estimação que consome 4 kg diários de frutas e legumes. A mascote não é do tipo que recebe a "mamãe" latindo ou pulando no colo.

Gypsy até abana o rabo, naturalmente enroladinho, quando Maria Eugenia se aproxima do recinto, construído especialmente para abrigá-la, em frente à quadra de tênis, no quintal da casa. Mas, no alto de seus 100 kg, a porca é facilmente capaz de atropelar a própria dona.

A bichinha chegou lá há dois anos. Foi comprada como uma miniporca, presente para o neto que mora nos EUA e passa férias com ela em Alphaville. Com apenas 2 kg, veio numa caixa de sapatos.

Mas, nos primeiros passos, a porca já assinalava que era boa de boca. Aos quatro meses, "lanchou" o jardim da casa. Desde bebê, revelava faro fino: Gypsy, cujo nome foi escolhido com ajuda de amigos, era apaixonadíssima por lírios. Traçava todos.

"Só restaram as azaleias. Ela nunca gostou e odeia jiló", explica, revelando o paladar gourmet de sua "baby".

Hoje, a porca está enquadrada numa dieta espartana: ração, frutas e legumes duas vezes por dia, na tentativa de não estourar a meta estipulada por uma nutricionista especializada em suínos.

Vez ou outra, recebe um agrado... condicionado. "Seat", diz Maria Eugenia ao se aproximar. Gypsy senta e devora a recompensa: um biscoitinho para cachorro.

Antes de degustar a guloseima, a porca solta um grunhido. "Ouviu? Ela emite três sons distintos: um quando quer comida, outro quando está carente e um de festa", interpreta a dona.

Naquele tarde, Gypsy lançou um ronco aparentemente indecifrável, que, no entanto, logo foi entendido: nem por mil biscoitinhos ela entraria na piscina da casa.

"Será que ela não está pedindo uma boia, Maria Eugenia?", quis saber a amiga Ana Maria Boucinhas, 68.

"Não é isso", responde Wilson, 32, o fiel assistente. "Ela é uma exímia nadadora."

Apesar de o terreno de 1.500 m2 abrigar cinco cães, dois canários-belgas, dois papagaios, dois jabutis e mais de um centena de sapos --estes, de brincadeirinha--, é difícil disputar espaço com Gypsy, cercada de mimos.

É a única dos mascotes que tem até direito a spa: uma vez por semana, ela ganha banho de azeite de oliva "para evitar o ressecamento da pele".

SWAT E PURPURINA

Entre animais e plantas, Maria Eugenia se revela uma mulher de fases: escritora, blogueira, advogada, filósofa e maratonista.

Essa senhora de 52 kg, que não aparenta os 66 anos, arruma tempo para manter um portal na internet, o Amantes da Vida (amantesdavida.com.br), que, voltado para a terceira idade, trata de temas como moda, cultura e viagens. Nele, só é proibido queixar-se da vida e falar de doenças.

Já escreveu três livros --em "Rotina com Purpurina", ela dá dicas para lidar com a vida doméstica. Participa ainda do programa "Mulheres", da TV Gazeta.

"Essa menina não para. Ao lado dela, não tem tempo feio", diz a amiga Ana Maria.

Carioca, Maria Eugenia mora em São Paulo há 30 anos. "Quando cheguei a Alphaville, aqui não tinha supermercado, mas sobravam corujas e sapos", conta a aposentada pela Receita Federal.

Aos 45 anos, depois de fumar desde os 15 anos, trocou o cigarro pela corrida. "Hoje, preciso de muita proteína para treinar", diz. "Peço perdão à Gypsy quando como uma feijoada", diz, sentida.

Participou de 35 maratonas em lugares como Nova York, Paris, Dubai e Rio. No segundo andar da casa, medalhas e troféus. Recentemente, ampliou a coleção com um distintivo da Swat, "prêmio" de um treinamento que fez com executivos brasileiros em Orlando (EUA). "No final, metralhamos um carro", conta.

Dia desses, começou a lapidar uma antiga paixão: patinação. "Quando menina, andava naquele modelo antigo de quatro rodas", lembra. "Sempre invejei as mocinhas do Walmart, que iam e vinham nos patins in-line."

Enquanto desliza pela quadra de tênis, Gypsy devora meia melancia e a observa. Solta um grunhido. Desta vez, parece dizer, finalmente, que ela está em "festa".


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