Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Arma em casa amplia chance de jovem se matar, diz psiquiatra

Estudos mostram que risco cresce 30 vezes e é maior do que com brigas familiares, diz Daniel de Barros, do HC

Para ele, caso do garoto Marcelo, 13, suspeito de matar a família, 'é muito raro e merece muita cautela'

CLÁUDIA COLLUCCI DE SÃO PAULO

A presença de armas em casa aumenta em 30 vezes as chances de um adolescente se matar. É um fator de risco muito maior do que brigas familiares ou outros transtornos psiquiátricos, apontam estudos internacionais.

Para o psiquiatra Daniel de Barros, 36, chefe do núcleo forense do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, esse é o principal gatilho que pode estar por trás dos casos de dois garotos, filhos de policiais militares.

Embora sejam casos bem distintos, ele está convencido de que o acesso fácil às armas causou as duas tragédias.

-

Folha - Em 24 horas, vimos um menino de 13 anos suspeito de matar a família e se suicidar e a criança que brigou com as irmãs e se matou. O que há em comum nesses casos?
Daniel Barros - Para mim, o fator central é a existência de armas em casa. Os estudos mostram que isso aumenta em 30 vezes as chances de um adolescente se matar. É mais do que o jovem ter depressão.
Se não houvesse essa facilidade a meios letais, o desfecho poderia ser diferente.

O que fazer quando a arma faz parte do trabalho dos pais?
Criança, adolescente não pode ter acesso nenhum, tem que esconder, trancar a arma.
É comum passar pela cabeça das pessoas algo do tipo: E o que acontece se eu morrer?' O adolescente é impulsivo. Se não tem acesso fácil, isso passa pela cabeça e ele esquece. Se tem fácil, isso potencializa as chances de fazer besteira.

O que deixa as pessoas perplexas é a falta de sinais. No caso do Marcelo, era um garoto sem histórico de violência.
Esse caso é bastante atípico, muito raro e merece muita cautela. Parricídios [morte dos pais] normalmente envolvem conflitos, violência ou interesse financeiro. É muito raro a pessoa se matar depois.
Os casos de familicídio são mais raros ainda, e o mais comum não é o filho ser o autor, mas o homem da casa.
Isso e o fato de não haver sinais anteriores que justificassem a tragédia recomendam muita cautela. Mesmo havendo todos os indícios, é preciso ter certeza de que foi ele.

E se houver essa certeza? O que mais poderia explicar?
É pura especulação, mas ele tinha uma doença crônica, progressiva e fatal. Isso é fator de risco para o suicídio, muito aumentado pelo fato de ter acesso a várias armas.
Pode ser que ele tenha pensado em acabar com o sofrimento dele e matar a família para poupá-la de um sofrimento maior. Essa hipótese, por mais absurda que seja, tem uma certa coerência.

Há estudos que mostram alto índice de estresse e de depressão entre os PMs. Isso não pode estar afetando os filhos?
Não conheço estudos sobre isso, mas sabemos que as emoções são contagiosas. Em ambientes deprimidos, estressados, todo mundo fica mais deprimido, estressado.
Policiais vivem uma situação muito difícil, não só com os bandidos, mas com a sociedade. A população quer que eles intervenham, mas não podem agir com violência. Eles vivem no fio da navalha.
Sim, esse clima tenso, estressado, pode contaminar o ambiente onde vivem.
Mas pensar que foi isso ou que foi o game violento que levou o menino a uma coisa dessas é um salto quântico, é muito reducionismo.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página