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Carro 'placa preta' é regra em São Paulo
Quase todos os políticos eleitos fazem uso de veículos oficiais seja no governo, Assembleia, prefeitura ou na Câmara
Deputados podem pedir reembolso de até R$ 14.721,20 mensais por combustíveis e lubrificantes
Há cidades cujos prefeitos vão para o gabinete e voltam de bicicleta --como Londres e Amsterdã-- e cujos políticos usam os próprios carros no dia a dia --a exemplo dos noruegueses e suecos.
E há São Paulo, onde o carro placa preta é a regra, não a exceção.
Estão presentes no governo do Estado, na prefeitura, na Assembleia e na Câmara, tanto para atender os políticos eleitos, como seus auxiliares, em compromissos oficiais e no trajeto do lar para o trabalho. Pouquíssimos políticos o dispensam.
Por três semanas, a Folha perguntou ao Palácio dos Bandeirantes o número de veículos do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e de seus secretários, os modelos, como foram contratados e o gasto com cada um deles.
Não houve resposta, apesar de, no fim de junho deste ano, após a série de protestos contra o aumento das tarifas do transporte público, Alckmin ter anunciado que reduziria a frota de carros oficiais.
ASSEMBLEIA
Os 94 deputados estaduais dispõem de frota comprada. São veículos Vectra Elite 2.0, o mais completo do modelo, adquiridos em dezembro de 2010 por R$ 8,9 milhões.
No início deste ano, ensaiou-se a renovação da frota. Porém, reportagem de "O Estado de S. Paulo" afirmou que só o veículo Corolla atenderia às características exigidas pelos políticos, o que resultou na abertura de inquéritos no Tribunal de Contas e no Ministério Público.
Os deputados desistiram, então, de trocar os veículos.
Com a suspensão da troca, que consumiria estimados R$ 11 milhões, os processos no Tribunal de Contas terminaram arquivados.
O mesmo destino foi recomendado pelo MP para o inquérito civil, que ainda passará pelo Conselho Superior da instituição.
Os deputados recebem carros oficiais desde 1975. Cada político tem o seu, com até dois motoristas à disposição. Caso opte por não utilizá-lo, o carro fica parado em alguma garagem, depreciando.
É o que acontece com o veículo designado para o vereador Edson Ferrarini (PSDB), que diz ficar "mais confortável" no seu carro particular."
"Devolvo ele [o oficial] novo. Tem apenas 6.000 quilômetros rodados. Mas tem deputado que mora, por exemplo, em Presidente Prudente [558 km de São Paulo]. O carro é instrumento de trabalho", completa.
Há o carro e o fornecimento de combustível. Na Assembleia, segundo a assessoria da Mesa Diretora, o deputado pode solicitar o reembolso de até R$ 14.721,20 por mês, entre combustíveis e lubrificantes.
Nenhum deputado atinge o teto. O que mais se aproxima é o tucano Carlão Pignatari. Entre janeiro e maio, ele requereu R$ 37 mil em reembolsos (o que dá uma média de R$ 7.400 ao mês).
Segundo seu assessor de imprensa, ele não poderia ser localizado para conversar com o repórter.
A reportagem quis saber como o gabinete gastou R$ 7.706,09 de combustível em janeiro deste ano, quando a Assembleia estava em recesso. O assessor respondeu: "Não sei, não tenho conhecimento".