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Pasquale Cipro Neto

'Quando o Fred rever o lance...'

O verbo que está em questão é "rever", que significa "ver outra vez" e é conjugado como "ver", portanto...

Há algumas semanas, o atacante Fred fez mais uma das suas e foi expulso de campo por um árbitro mais atento do que boa parte de seus colegas. Na TV, um querido comentarista concordou com a decisão do árbitro e emendou: "Quando o Fred rever o lance...". Depois, fez mais algumas considerações pertinentes e repetiu: "Quando o Fred rever o lance...".

Há algum problema na construção "Quando o Fred rever o lance..."? Ela é adequada à norma culta? Não é, caro leitor. Temos aí o futuro do subjuntivo do verbo "rever". O futuro do subjuntivo ("quando/se eu fizer", "quando/se ela souber", "quando/se nós pudermos", "quando/se eles forem") é um tempo verbal derivado. Para ser mais preciso, o futuro do subjuntivo é um dos três tempos derivados do pretérito perfeito do indicativo.

Para quem já não se lembra do que é o pretérito perfeito, lá vai uma explicação prática, ou seja, uma listinha de formas desse tempo: "Acabei com tudo, escapei com vida..."; "Morreu na contramão atrapalhando o sábado"; "Alguns anos vivi em Itabira/ Principalmente nasci em Itabira".

O pretérito perfeito é perfeito porque, justamente pela presença do adjetivo "perfeito", indica um processo totalmente concluído. Basta reler os exemplos do parágrafo acima para perceber que os processos indicados pelo pretérito perfeito são totalmente concluídos.

Como já afirmei, o futuro do subjuntivo deriva do pretérito perfeito do indicativo. A maneira mais simples de demonstrar isso é a seguinte: toma-se a terceira pessoa do plural do pretérito perfeito de QUALQUER verbo da língua portuguesa, eliminam-se as duas letras finais (que são sempre "am", QUALQUER que seja o verbo) e já se obtém o "eu" do futuro do subjuntivo.

Vamos ver isso na prática: de "eles fizeram", chega-se a "quando/se eu fizer", certo? Você certamente notou que se eliminou o "am" de "fizeram" e se chegou a "fizer". Repito: isso vale para QUALQUER verbo.

Vamos aumentar a lista: de "eles puseram", faz-se "quando/se eu puser"; de "eles obtiveram", faz-se "quando/se eu obtiver"; de "eles vieram", faz-se "quando/se eu vier". E de "ver"? Como é mesmo a terceira do plural do pretérito perfeito? É "viram": "Os cafajestes travestidos de torcedores não viram que...".

Pois bem. O que ocorre quando se eliminam as duas letras finais de "viram"? Ocorre o de sempre, ou seja, faz-se o "eu" do futuro do subjuntivo: "Quando/Se eu vir sua prima lá...". Na língua do dia a dia, a tendência da maior parte dos falantes brasileiros (independentemente da classe social e do grau de instrução) é "regularizar" esse verbo, ou seja, conjugá-lo como se fosse regular. Tradução: as pessoas tendem a dizer "Quando/Se eu ver sua prima lá...".

No padrão culto, não é essa forma que ocorre, como se vê nestes exemplos: "Quando meu bem-querer me vir..." (de "Bem Querer", de Chico Buarque"); "E na TV se você vir um deputado em pânico...", de "Haiti", de Caetano Veloso e Gilberto Gil"). No padrão culto, o futuro do subjuntivo do verbo "ver" obedece ao sistema que vale para QUALQUER verbo.

Pois voltemos ao título desta coluna. Qual é o verbo que está em questão? É "rever", que significa "ver outra vez". "Rever" se conjuga como "ver", portanto seu futuro do subjuntivo começa com "Quando/Se eu revir...". Como a terceira pessoa do singular desse tempo é SEMPRE igual à primeira ("Quando/Se eu/ele for"; "Quando/Se eu/ele fizer"), teremos "Quando/Se Fred revir o lance...". O uso efetivo da língua parece rechaçar essas formas consideradas cultas, mas, por ora, nada de bruxaria linguística, ou seja, nada de predizer o futuro desse verbo e de outros afins. O que tiver de ser será. Por enquanto... É isso.


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