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Ex-fiscal nega pagamento de propina em obra que desabou na zona leste
Aposentado afirma que visitou construção duas vezes após embargo e que ela estava parada
Gestão Haddad apura irregularidades porque uma denúncia anônima falava em 'acerto'; dez pessoas morreram
O ex-fiscal Valdecir Galvani de Oliveira, 53, nega que tenha havido pagamento de propina na fiscalização da obra que desabou, matando dez pessoas, em São Mateus (zona leste), na semana passada.
A suspeita foi levantada pelo prefeito Fernando Haddad (PT) após ele saber de denúncia anônima que relatava um "acerto" entre o dono da obra e agentes vistores para que a construção fosse adiante.
Oliveira diz que embargou a obra após aplicar duas multas que totalizaram R$ 104,5 mil ao proprietário do prédio, Mostafa Abdallah Mustafa.
Depois, segundo ele, voltou ao local duas vezes e constatou que a obra --onde seria instalada uma loja da rede Torra Torra-- estava parada.
"Não [houve propina]. Tenho certeza por mim. Tanto que a multa foi aplicada e o embargo também", afirmou.
Mesmo irregular, a obra prosseguiu sem os alvarás e ignorando o embargo.
Segundo advogados de Mustafa, a obra foi entregue à Torra Torra, que contratou a Salvatta Engenharia para fazer o acabamento. À polícia, funcionários da Salvatta disseram que a obra era precária e havia risco de desabamento.
Dois dias após a tragédia, o prefeito determinou abertura de sindicância para apurar irregularidades e disse que pretendia rever o Código de Obras.
A suspeita é que pode ter ocorrido pagamento de propina porque um dia após a segunda multa, de R$ 103, 5 mil (em 25 de março), houve a denúncia anônima à prefeitura.
Oliveira diz que anexou a denúncia ao processo e encaminhou a seu supervisor. "Daí em diante, não sei o que foi feito."
O ex-fiscal pediu exoneração do cargo dez dias após a segunda autuação. Em seguida, aposentou-se, segundo ele, por ter mais de 35 anos "de carteira assinada" e por problemas psicológicos.
"Me desliguei porque é um serviço extremamente estressante. Somos ameaçados constantemente. Já me esmurraram, fui ameaçado com armas e tive de mudar de casa."
Pai de dois filhos que estudam em escola pública, ele disse que, por causa das ameaças, passou a ter "paranoia". "Não conseguia mais trabalhar. Achava que me perseguiam."
Oliveira prometeu abrir suas contas à polícia e à Controladoria Geral do Município.
Segundo Haddad, a subprefeitura deveria ter acionado a Polícia Civil depois que a obra continuou.
Oliveira disse que essa não era atribuição dele e que conheceu Mustafa no dia da aplicação das multas e, segundo ele, o dono do imóvel não lhe ofereceu nada e afirmou que iria cumprir a lei.