Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Sem Fumaça

No Dia Mundial Sem Carro, paulistanos revelam como conseguem transitar de bike, skate e até patinete

ROBERTO DE OLIVEIRA DE SÃO PAULO

Os 120 metros da rua Vittorio Fasano lembram uma vitrine móvel dos últimos lançamentos da indústria top automobilística: Jaguar, Maserati, Mercedes e Ferrari, carrões que chegam a R$ 1 milhão e atingem 250 km/h.

Mas um veículo bem mais modesto, de corpo esquálido, preço médio de R$ 3.000 e velocidade máxima de 30 km/h, costuma botar aquelas máquinas poderosas no chinelo: desliza como se não houvesse barreiras nem trânsito, em pleno coração dos Jardins (zona oeste de São Paulo).

Lá vem o patinete elétrico de Manoel Beato. O sommelier do Grupo Fasano deu "PT" (perda total) em seu veículo três anos atrás. Fez as contas: IPVA, estacionamento, manutenção, seguro. Olhou para o céu sujo, deu uma engasgada e, desde então, abandonou o carro.

É verdade que a vida profissional e social de Beato facilita --e muito-- essa mudança: ela orbita basicamente um universo de 5 km.

Para circular, pega ônibus, metrô e táxi. Anda a pé. Na hora de dar expediente nos restaurantes do grupo, segue ora de patinete, ora de bike.

"Esses meios permitem a você conhecer melhor a cidade, as pessoas, perceber a paisagem, as cores e os cheiros", diz Beato, 49. "É claro que sou privilegiado por morar e trabalhar perto, mas tem gente por aí que pega carro para ir à padaria da esquina."

Hoje, Dia Mundial Sem Carro, é uma oportunidade para pôr o plano em prática, tanto para ir comprar um pãozinho logo ali quanto para passear no centro histórico de São Paulo, que estará fechado aos automóveis.

Com seu patinete elétrico, Beato aprova a iniciativa: "O paulistano deveria fazer um esforço para deixar seu carro mais tempo na garagem".

É o que anda fazendo o juiz Rodrigo de Azevedo Costa, 40. Dono de dois veículos, adotou um novo meio de transporte para se locomover da zona oeste à norte.

Percorre, de bike, 21 km de casa ao trabalho. "Lá tem estrutura que me permite tomar um banho quando chego", conta. "Acredito que, se as empresas oferecessem isso aos trabalhadores, mais gente iria trabalhar de bicicleta."

Carro mesmo só quando o juiz precisa levar a troca de roupa da semana para o fórum. "Demoro uma hora. De bike, são 35 minutos", diz.

O executivo Nelson Berto, 31, considera o carro, "infelizmente, um mal ainda indispensável". Mesmo assim, estaciona o seu veículo na Vila Olímpia, onde trabalha, e percorre pequenos trechos de skate. "Almoço, encontro amigos nos bares, vou à padaria ou ao supermercado."

Como a maioria dos paulistanos, odeia o trânsito. "É algo que me tira do sério, mas, nessa cidade de transporte coletivo precário, metrô pífio, o carro continua sendo uma necessidade."

Em São Paulo, por onde circulam diariamente 3,8 milhões de veículos, o carro está sendo "enquadrado" --em diferentes sentidos.

Com faixas de ônibus, planos para ampliar os corredores e projetos de aumentar o rodízio, a administração Haddad (PT) comprou "briga" com os donos de carros.

"Deixamos de lado toda a orientação em torno do carro, do veículo particular, para favorecer o transporte público", disse o prefeito, na quarta, durante lançamento da Semana da Mobilidade.

PERCALÇOS NO CAMINHO

Entre uma parcela dos paulistanos, há um movimento crescente, mas ainda imensurável, dos sem-carro por opção. O sommelier Beato conta que muitos amigos mantêm o carro para viajar ou para casos urgentes e optam cada vez mais por transportes alternativos.

Na opinião dele, a bicicleta pode ajudar o paulistano a romper com o que ele chama de "ciclo de clausura".

"Shoppings, condomínios, carros, as pessoas precisam sair desse encastelamento e circular mais pelas ruas, ocupar mais a cidade."

Para quem anda de bike, enfrentar esse emaranhado de motores não é tarefa das mais simples. O desrespeito do motorista ao ciclista é apontado como o principal obstáculo nessa corrida, que resultou em 26 mortes no ano passado. Até maio último, 15 ciclistas morreram nas ruas da capital, segundo a CET, menor número desde 2005.

Segundo Felipe Aragonez, 27, presidente do Instituto CicloBR, "bicicleta nunca foi um veículo perigoso em São Paulo". "O trânsito das cidades brasileiras é perigoso, a maneira como as pessoas dirigem é perigosa, o jeito como as cidades foram planejadas deixa o tráfego perigoso."

A quem opta pela bike, Aragonez recomenda: "Ocupe a faixa, torne-se visível, procure fazer caminhos alternativos por vias mais calmas e respeite os pedestres", dicas essas que servem também para quem dirige carro e para quem manobra skate ou até patinete --elétrico ou não.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página