Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Analfabetismo no país para de cair pela 1ª vez em 15 anos
Entre idosos, a taxa dos que não sabem ler nem escrever chega a 24,4%; já entre os jovens ela se limita a 1,2%
Melhoria perde ritmo porque analfabetos que restam são cada vez de mais difícil inclusão, afirma professora
Pela primeira vez em 15 anos, a taxa de analfabetismo parou de cair, interrompendo a tendência de queda contínua --mais acentuada desde o fim dos anos 90.
O percentual de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever no país passou de 8,6% para 8,7% entre 2011 e 2012.
Restavam 13,2 milhões de analfabetos no país, concentrados nas faixas etárias mais elevadas, segundo a Pnad.
Maria Lúcia Viera, gerente do IBGE, diz que a variação representa estabilidade, dentro da margem de erro e que será preciso aguardar os dados do próximo ano para verificar a tendência.
Para a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, há um componente demográfico que influencia a taxa de analfabetismo, "já que a população envelhece e os não alfabetizados se concentram em faixas etárias mais elevadas".
Entre os brasileiros com 60 anos ou mais, o percentual chegou a 24,4%. Na outra ponta, a menor taxa foi entre jovens de 15 a 19 anos (1,2%).
Na avaliação de Eliane Andrade, professora do departamento de educação da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e da UniRio, a redução da taxa pode perder ritmo, uma vez que os analfabetos que restam no país são cada vez de mais difícil inclusão. Ela citou idosos e moradores de áreas rurais.
"A tendência é chegar em uma taxa em que é difícil conseguir grandes variações."
Com a elevada taxa de escolarização, a redução do analfabetismo fica mais complicada, avalia Kaizô Beltrão, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV.
"A eliminação do analfabetismo ocorre principalmente pela entrada na escola." Entre as crianças de 6 a 14 anos, 98,2% já estavam na escola no ano passado.
Por região, a Nordeste concentrava mais da metade dos analfabetos de 15 anos ou mais. A taxa chega a 17,4%, ante os 4,4% do Sul.
Houve melhora em outros índices de educação. A média de anos de estudo na população com dez anos ou mais subiu de 7,3 para 7,5. A presença de crianças de quatro ou cinco anos nas escolas foi de 77,4% para 78,2%.
'SABIDO'
No Recife, o comerciante Armando Marques, 43, que parou de estudar na segunda série para trabalhar, sabe ao menos escrever o nome de batismo. Diz que perdeu "muita oportunidade na vida".
"Mas eu me informo. Assisto TV e minha esposa lê jornal para mim", afirma.
Mesmo analfabeto, virou um microempreendedor. Entrega pizzas e acabou de comprar uma barraca de coco.
"Nunca me passaram a perna porque sou sabido, sou inteligente", diz Marques, que garantiu estudo aos seus quatro filhos e afirma acreditar que agora é possível conciliar trabalho e escola.
"Vou abrir outros horizontes. Não vou mais depender de ninguém para assinar um cheque, para ler para mim", disse o comerciante.