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Cotidiano

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Entrevista João Grandino Rodas

Sociedade está cansada de protesto ilegal e violento

Reitor afirma que a USP, que caiu no ranking internacional THE, conseguiu boas avaliações em outras classificações

Rodas, que vai deixar cargo em dezembro, defende modernização do ensino com uso de educação à distância

SABINE RIGHETTI DE SÃO PAULO

Uma universidade que enfrenta tomadas violentas de espaço não poderia estar entre as melhores do mundo.

Essa é a avaliação de João Grandino Rodas, reitor da USP, diante da queda da universidade no ranking THE (Times Higher Education), o principal da atualidade.

Publicado nesta semana, o THE colocou a USP no grupo de 226º-250º lugar na lista mundial de universidades --uma queda de 68 posições.

Também nesta semana, Rodas viu cerca de 500 alunos invadirem a reitoria porque são contra o processo de escolha do reitor. "Seria proveitoso se a postura de ser contrário a tudo' fosse substituída por postura firme de reivindicações e de colaboração", analisa.

Os manifestantes representam 0,51% dos mais de 92 mil alunos. "A grande maioria dos uspianos e da sociedade civil está cansada desse método violento e ilegal utilizado por certas minorias", diz.

Rodas deixa a reitoria em dezembro e descarta voltar a ocupar nova função na área administrativa da USP.

Folha - A USP é a melhor universidade do Brasil, mas vai mal em comparações com universidades internacionais. O que falta para a USP ser competitiva globalmente?

João Grandino Rodas - É preciso trabalhar em muitas frentes: melhorar a qualidade das pesquisas, o número de citações em periódicos científicos de impacto e o de professores e de pesquisadores estrangeiros. Para tanto, deve-se investir em condições para o acolhimento de estudantes estrangeiros.

A falta de estabilidade de unidades da universidade ou dela como um todo é fatal, pois gera falta de confiança e diminui a percepção que os outros têm da instituição, fazendo-a despencar nas classificações internacionais. Há alguma universidade muito bem classificada nos rankings mundiais em que aconteçam tomadas violentas de espaço, como as que voltaram a ocorrer na USP? Obviamente que não.

Como lidar com movimentos estudantis? É possível criar um canal de diálogo?

A grande maioria dos uspianos e da sociedade civil está cansada desse método violento e ilegal utilizado por certas minorias. Há meios legítimos em uma sociedade de direito plena para resolver questões ou impulsionar mudanças. Ninguém de bom senso confunde o exercício de meios de constrição judicial e legal, acionados por administradores públicos, com a repressão da ditadura.

Nas unidades e nos órgãos centrais da USP há inúmeros órgãos colegiados decisórios em que alunos, professores e funcionários são representados. Protestos extraordinários são cabíveis em um estado democrático de direito, mas nunca com a utilização de atos considerados como crime pelo direito penal, como vem acontecendo na USP.

Por que o sr. defendeu a eleição direta na USP?

Defendi uma maior participação na escolha dos dirigentes. Abri a possibilidade de apresentarem projetos visando tal objetivo e coloquei esses projetos em discussão e votação no Conselho Universitário. Minha preferência é pela possibilidade de votarem todos os alunos, funcionários e professores, cujos votos valeriam, respectivamente, 15%, 15% e 70%.

As mudanças na eleição foram satisfatórias?

As mudanças representaram um grande avanço. Instituiu-se, por exemplo, a inscrição prévia das chapas, com a apresentação dos respectivos programas, a necessidade de os dirigentes-candidatos se desincompatibilizarem, além de tornar obrigatória a consulta à comunidade.

Qual foi a repercussão do ranking THE na gestão da USP?

Há vários rankings internacionais. O termômetro importante é a média em todas as classificações. Há poucas semanas, outro ranking [o QS] colocou a USP em 127º lugar na lista de universidades mundiais.

No ranking de Xangai, a USP manteve a mesma posição do ano passado (101ª-150ª), no QS subiu 12 posições e, no World Reputation Ranking 2013 foi classificada entre as 70 universidades com melhor reputação do mundo -- a única de ensino superior da América do Sul entre as cem primeiras.

Uma análise aprofundada do THE de 2013 demonstra uma queda geral de todas as universidades da América Latina, o que aponta para uma desvalorização dessa própria região geográfica ante esse ranking.

Nos rankings internacionais, a USP tem sido uma exceção no que tange a sua idade, abrangência, tamanho e número de alunos. Na avaliação de 2012 do QS fomos considerados "extra large university" (universidade muito grande), o que, nesse contexto, não é um elogio.

Falamos um idioma que não é internacional e estamos localizados fora do "centro do mundo".

Qual é a sua opinião sobre os cursos livres na internet (MOOCs) que têm ganhado força em grandes universidades dos EUA? A USP deve entrar nessa área?

Até o momento, a sala de aula se modificou pouco desde o advento das primeiras universidades na Europa, no século 19.

A escola que desejar um aprendizado satisfatório deve modernizar suas salas de aula e treinar seus professores para tornar suas aulas interativas em tempo real. Assim, o alunado estará motivado a interagir nas aulas presenciais.

Em futuro muito próximo, as fronteiras ainda existentes entre ensino presencial e à distância desaparecerão.

Qual é o balanço que o senhor faz da sua gestão?

As principais realizações da minha gestão começaram pela agilização da estrutura organizacional da universidade. Os servidores técnico-administrativos foram contemplados com um moderno plano de carreira, baseado no mérito, que os valoriza, além de possibilitar sua permanência na universidade com crescente motivação. No caso dos docentes, foi implantado o plano horizontal de progressão na carreira, com acréscimo salarial, em níveis.

Outro grande passo foi destinação de verba orçamentária para financiar o Programa de Apoio à Pesquisa, que incentivou a criação dos NAPs (Núcleos de Apoio à Pesquisa). A USP foi pioneira e, entre as universidades brasileiras no financiamento próprio de pesquisa.

Os alunos têm mais auxílios de permanência estudantil. Criou-se o USP Internacional, que objetiva fortalecer a presença no exterior com o gerenciamento de núcleos em São Paulo, Boston, Londres e Cingapura.


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