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Moradora de rua vai ao cabeleireiro e perde prova

FABRÍCIO LOBEL COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Por causa de um atraso de dez minutos, a moradora de rua Paloma Leoncio da Silva, 25, perdeu a prova do Enem.

"Fui fazer hidratação nos meus cabelos e acabei me atrasando", conta. "Queria estar bem na prova. As pessoas têm muito preconceito contra morador de rua."

Há quase cinco anos, Paloma vive num gramado na avenida 23 de Maio, na região central de São Paulo. Seu sonho era cursar letras ou história. E, assim, deixar as ruas.

"O país precisa de professores", diz, enfática. "E eu quero ser uma. Não me importo em ganhar pouco. Nem que seja um salário mínimo."

Ontem foi um dia especial para Paloma. Ela pulou cedo da cama: antes da 7h. Caminhou até a rua Sete de Abril, no centro paulistano, onde comprou roupas novas para prestar o exame.

De lá, seguiu para um salão de cabeleireiros, que faz cortes e hidratação a preços populares. Pegou seu RG, sua caneta preta e pediu carona em um ônibus para chegar ao local da prova, na Vergueiro.

Presa no trânsito, decidiu descer do ônibus e subir a avenida a pé. Quando os portões fecharam às 13h, estava a um quilômetro da faculdade. Depois que desistiu de correr, lamentou: "Por mais um ano, eu perdi a chance de sair das ruas."

A jovem, que completou o ensino médio há seis anos, diz ter se preparado para o Enem lendo os jornais que ficam expostos nas bancas da cidade. "Eu não tive boa escola. Sei que estou numa competição desleal com os outros candidatos", diz.

A ideia de Paloma era conseguir boa nota para ter acesso ao Fies [Programa de Financiamento Estudantil do governo federal].

Ela conta ter saído de casa aos 20 anos, depois de brigar com a família. Decidiu então morar na rua com seu atual companheiro, segundo ela, usuário de crack.

Hoje, o único contato com membros de sua família é feito por sua conta do Facebook, acessado em centros públicos de internet.

Ontem seria a sexta vez que Paloma faria o Enem. Nos últimos oito anos, ela apenas não fez a prova quando não conseguiu ter um endereço para que o Ministério da Educação lhe enviasse a carta de convocação. Neste ano, forneceu o endereço onde funciona um espaço de convivência para moradores de rua.

"Ninguém por lá acreditou em mim quando disse que eu queria fazer o Enem", conta. "Só acreditaram quando a carta do ministério chegou. Agora, é esperar para um dia realizar o meu sonho."


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