Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

São Paulo está há 15 anos 'de joelhos', diz Haddad

Prefeito afirma que máquina admite 'indecência' e que cidade não pode quebrar

Questionado se Kassab sabia de esquema de corrupção, ele diz que fatos não têm ligação com poder público

MÔNICA BERGAMO COLUNISTA DA FOLHA

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT-SP), classificou a prisão de funcionários da prefeitura ontem de "um dos maiores escândalos da cidade de São Paulo".

Os desvios de pelo menos R$ 500 milhões ocorreram na gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD-SP).

Questionado se o antecessor sabia das irregularidades, o petista disse: "As informações preliminares não indicam que o esquema tinha ligação com o poder público".

Ele deu as declarações em entrevista coletiva. Em seguida, recebeu a Folha para uma conversa em seu gabinete:

-

Folha - Na terça, foi aprovado o aumento de IPTU. Um dia depois, estoura um esquema de roubalheira. O cidadão pagará mais para o dinheiro continuar "saindo pelo ladrão"?
Fernando Haddad - Ao contrário, ao contrário. Estamos combatendo a corrupção como nunca. E isso se insere num contexto maior, que é um plano de reestruturação das finanças do município, com iniciativas de fôlego e não só conjunturais. A investigação já teve impacto sobre a arrecadação de ISS. Cortamos R$ 500 milhões em contratos. Atualizamos a Planta Genérica de Valores [base de cálculo do IPTU]. Repactuamos a dívida [com a União] e o estoque vai cair R$ 24 bilhões.

A impressão é a de que SP é um ralo e que o dinheiro some por todos os lados.
Isso não é verdade em todas as administrações. Os casos mais recentes, como o do [diretor Hussain] Aref [suspeito de comandar esquema criminoso na aprovação de obras], o caso agora da Receita, são escândalos de monta, envolvem centenas de milhões. E estão sendo desbaratados.

O senhor está dizendo que a administração de Gilberto Kassab foi corrupta?
Eu entendo que... eu não gostaria de fazer esse tipo de afirmação. O que eu quero enfatizar é que nós tivemos uma boa ideia, que foi criar a CGM (Controladoria Geral do Município). Muitos imaginavam que ela poderia paralisar a administração. Mas eu falei: "O que eu ouço é que a situação [da máquina administrativa] está degradada".
O caso Aref, no ano da eleição, e agora o caso Ronilson [Rodrigues, um dos presos ontem], mostram que havia muitos focos de problema.

O Ronilson chegou a ser investigado na gestão Kassab, em 2012, e depois foi nomeado para um cargo na SPTrans já na sua gestão.
O que houve [em 2012] foi uma denúncia anônima e a abertura de um expediente. O servidor foi ouvido e ficou por isso mesmo. Ele era tido como pessoa altamente respeitável. E foi para a SPTrans. Depois, começou uma investigação. O controlador achou por bem mantê-lo no cargo para não levantar suspeitas. E monitorá-lo para que chegássemos ao dia de hoje [ontem], com a sua prisão.

Haverá abalo na relação com a bancada de vereadores do PSD, partido de Kassab?
A bancada do PSD nunca foi propriamente da base do governo municipal. Temos um diálogo que vai se manter. E eles votarão [com a prefeitura] naquilo que for de interesse comum. O próprio PSDB tem votado temas de interesse da administração.

No caso do aumento do IPTU, houve grande oposição.
A revisão da Planta Genérica de Valores é um dever moral e legal que todo prefeito é obrigado a cumprir. E todo prefeito cumpriu. Não é coisa de esquerdista, como disseram. Paulo Maluf, Celso Pitta, Jânio [Quadros], Kassab, são todos esquerdistas e socialistas? Que história é essa?

O senhor não avisou a ninguém na campanha que iria aumentar o imposto.
O curioso desse episódio é que nenhum jornalista perguntou aos candidatos se a lei aprovada em 2009, que exige a atualização da Planta Genérica de Valores, seria cumprida. Eu responderia que sim. E eu acho que todos os candidatos responderiam positivamente. Mas é tão trivial que ninguém se interessou por esse tema.

O senhor então não falou porque não foi perguntado?
Por que eu não falaria se eu respondi sobre um tema muito mais sensível que é o aumento da tarifa de ônibus?

É possível a criação de nova taxa para financiar tarifa?
Eu não vejo nem como. A Cide é o caminho. É uma contribuição existente, que incide sobre a gasolina. E é justo que o transporte individual subsidie o coletivo.

O governo Dilma foi criticado por causa da renegociação da dívida, que não seria responsável do ponto de vista fiscal.
Irresponsabilidade fiscal é quebrar São Paulo. O país depende dessa cidade. A região metropolitana responde por 20% do PIB do país que é a sexta economia do mundo. As pessoas perderam a noção do que é São Paulo. E me revolta isso. A gente esqueceu tudo o que a gente é? A cidade é o coração do desenvolvimento nacional. E está aí há 15 anos de joelhos, por causa desses constrangimentos, contrato de dívida mal feito, máquina que admite uma indecência dessas [a corrupção dos servidores presos ontem].


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página