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Opinião

Realidade de SP se aproxima cada vez mais da ficção de Julio Cortázar

LEONARDO CRUZ SECRETÁRIO-ASSISTENTE DE REDAÇÃO

"Tudo era cheiro de gasolina, gritos descontrolados dos jovens do Simca, brilho do sol reluzindo nos vidros e nos cromados e a sensação contraditória de confinamento em plena selva de máquinas concebidas para correr."

Fim de tarde na marginal Tietê? Não exatamente. Mas o trecho acima, excetuado o improvável Simca Chambord, bem que poderia descrever a rotina dos paulistanos ontem, em mais um dia de trânsito recorde na cidade.

Essa cena de calor e clausura, tão típica de São Paulo, está em "A Autoestrada do Sul", conto em que Julio Cortázar descreve um engarrafamento monstro numa rodovia nos arredores de Paris.

Na fantasia do autor argentino, o congestionamento dura meses, e motoristas e passageiros se conhecem, se amam, têm filho e morrem em meio aos carros parados.

Ninguém tem nome. São todos identificados por suas máquinas, como "o engenheiro do Peugeot 404", "os velhinhos do Citröen ID", "a garota do Reunalt Dauphine".

Cortázar (1914-84) escreveu esse delírio em 1964, para o livro "Todos os Fogos o Fogo" (R$ 15, 160 págs., BestBolso). O conto também é o carro-chefe da coletânea "Autoestrada do Sul e Outras Histórias" (R$ 21, 232 págs., LP&M).

Apesar de seus quase 50 anos, o texto fica mais atual a cada dia, por passagens como esta: "Não entardecia nunca, a vibração do sol sobre as pistas e carrocerias dilatava a vertigem até a náusea".

Parece mesmo ficção?


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