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Opinião

Teatro é melhor personagem da peça de Niemeyer

Se fosse um encenação, projeto do Memorial, que tem em seu DNA as ambições de Quércia, seria uma farsa

FERNANDO SERAPIÃO ESPECIAL PARA A FOLHA

Se qualquer incêndio é dramático, a fatalidade da tarde de ontem é maior: ardeu um teatro público desenhado pelo arquiteto mais importante que esse país já teve.

O concreto do teatro do Memorial da América Latina, além da assinatura de Oscar Niemeyer, tem gravado em seu DNA as ambições políticas de Orestes Quércia, que idealizou o conjunto como um passo rumo ao Planalto.

O ex-governador pediu ao arquiteto um centro de convivência que reforçasse a posição central de São Paulo no continente.

Quércia seguiu a receita de Juscelino e deu carta-branca ao projetista que, por sua vez, usou sua própria receita de sucesso desde Pampulha: curvas, concreto, arrojo técnico, surpresas e integração com artes plásticas.

Niemeyer exigiu mais área e ganhou o terreno ao lado. Tratou os edifícios como objetos, tal como personagens do teatro. Criou o enredo em três dias e chamou Darcy Ribeiro para avalizar.

EDIFÍCIOS CARICATOS

Se fosse uma encenação, o projeto estava mais para farsa do que drama ou tragédia (esqueço o destino político de Quércia e foco os edifícios): caricatos, eles são personagens que não conversam entre si, não interagem com o público nem com o cenário ao redor.

Se comparados a equipamentos culturais da mesma época que são verdadeiros locais de convivência, como o Centro Cultural São Paulo ou o Sesc Pompeia, percebemos que a arquitetura do Memorial falhou.

Essa não era a opinião de Niemeyer, que chegou a classificá-lo como um de seus projetos mais importantes.

Após a inauguração, ele próprio piorou o script original, colocando um novo ator mudo em cena "" o Parlatino.

O público vaiou e exigiu árvores; o projetista, que imaginava sua praça cimentada como as medievais, plantou palmeiras e regou-as com ironia.

DUPLA PLATEIA

Arquitetonicamente, o teatro incendiado é o personagem mais elaborado em cena.

Com 850 metros quadrados, a tapeçaria de Tomie Ohtake acentuava a leitura da dupla plateia, criando uma das melhores relações entre arquitetura e arte do Memorial.

As notícias preliminares dão conta que o fogo começou em um curto-circuito no forro e foi justamente o carpete que reveste as paredes que ajudou a alastrar as chamas.

Ironicamente, na realização da obra de Tomie Ohtake houve uma polêmica em relação à compatibilização dos projetos de ar condicionado e incêndio com a tapeçaria, que sofreu cortes para a passagem dos dutos e tampas das caixas para mangueiras de incêndio.

Diz o bordão que o espetáculo não pode parar: o teatro e as obras de arte atingidas podem (e devem) ser reconstruídos, usando técnicas e materiais mais resistentes às chamas.


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