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Foco

Aberta em 1935, chapelaria em São Paulo fecha as portas

RICARDO SENRA DE SÃO PAULO

Na esquina onde se encontravam cartazes glamourosos como "Panamá", "Borsalino" e "Cloche", hoje se lê uma faixa plástica branca com letras azuis: "Passo o ponto".

Depois de 78 anos resistindo numa sala escondida sob o viaduto Santa Ifigênia, centro de São Paulo, a loja El Sombrero recolheu o chapéu na última segunda-feira.

Seu dono, Abram Kirszenwurcel, 60, ainda pode ser encontrado empilhando o que restou do acervo, que no início dos anos 2000 reuniu mais de 180 modelos.

"Não tem mais loja, não tem mais telefone, não tem mais site. Fechou", disse, recebendo a reportagem de cabeça quente.

Filho de Szmul Icek Kirszenwurcel, chapeleiro polonês que chegou ao Brasil em 1929, Abram nega qualquer crise. "Não foi por falta de público, essa chapelaria sempre foi muito bem, obrigado."

Então fecha por quê? "Porque estou cansado", respondeu, menos desconfiado. "E um dia é preciso parar."

PANAMÁ

A figurinista Iraci de Jesus, 52, lembra do primeiro chapéu que comprou na esquina das ruas do Seminário e Brigadeiro Tobias, 34 anos atrás.

"Era bordô, tinha a cabeça redondinha e uma aba pequena de feltro, bem feminino."

Desde então, Iraci perdeu a conta de quantas vezes voltou. "Sempre ia por causa dos figurinos que produzo. Eles davam dicas sobre o chapéu ideal para cada situação, quais materiais eram mais duráveis e tal. É uma pena."

Entre boinas, quepes, casquetes, "porkpies" e "floppies", a cliente diz ter feito várias descobertas. "Foi lá que eu soube que o Panamá não era produzido no Panamá."

A origem do chapéu que emoldurou as cabeças de Tom Jobim e Santos Dumont está mais embaixo no mapa: Cuenca, no Equador --onde é chamado de "El Fino".

Também triste está a aposentada Sônia Ramires, 65. "Sou uma senhora que sempre usou boinas", diz.

Desde os anos 1970, quando começou a frequentar a loja, Sônia comprou oito boinas. "Fui lá pela última vez há uns três anos. Os chapéus eram bons, não tinha por que voltar toda hora."

Além dos chapéus, a loja vendia acessórios, como cintos, bengalas e gravatas.

Agora, a loja ainda tem mais ou menos 50 caixas empilhadas. "Vou tentar repassar o que sobrou para a concorrência", disse Abram.

"Vai ser difícil vender tudo porque nenhuma loja tinha tanto público quanto a gente. O que sobrar, efetivamente, vou doar para a caridade --não tenho como carregar uma mala dessas para casa."


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