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Não conseguia mais ajudar na lição de casa, afirma mãe

Maria Aparecida Alexandre Custódio voltou à escola mais de duas décadas depois de abandonar os estudos

Busca por melhor escolaridade ocorre também entre os que têm mais de 50 anos, segundo dados do IBGE

ÉRICA FRAGA DE SÃO PAULO

Maria Aparecida Alexandre Custódio, 47, desenvolveu uma tática para disfarçar a falta de conhecimento quando o filho mais velho vinha com uma dúvida da escola que ela não sabia solucionar.

"Dizia: filho, a mamãe está muito cansada agora, vai pensar melhor e te fala amanhã de manhã. Aí, passava a noite estudando para não decepcioná-lo."

Era fim da década de 1990. Ela trabalhava como auxiliar em um sindicato e tinha cinco filhos em idade escolar.

"Chegou um momento em que me dei conta de que não conseguia mais ajudá-los e resolvi retomar os estudos."

Mais de duas décadas depois de abandonar a escola --com 11 anos--, ela voltou e terminou o ensino básico.

A decisão tomada para ajudar os filhos rende frutos para Maria Aparecida até hoje.

Com o diploma de ensino médio, ela conseguiu um trabalho melhor no Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária).

Sua função envolve justamente aproximar famílias das escolas dos filhos. O objetivo de Maria Aparecida agora é partir para o ensino superior.

A meta de ajudar os filhos e outras crianças da comunidade carente onde vive, em Porto Seguro (BA), também norteou a decisão de Sileyde Bonfim de voltar a estudar.

Ela tinha deixado a escola quando engravidou aos 16 anos e voltou para poder dar andamento a um instituto de apoio à educação.

DEPOIS DOS 50

A procura por maior escolaridade tem ocorrido até entre brasileiros mais velhos.

A parcela dos adultos com 50 a 54 anos que estudava era de 0,45% em 1992 e aumentou para 1,79% em 2012.

Entre os brasileiros com 55 a 59 anos, o salto foi de 0,18% para 1,08% do total no mesmo período.

Damião Aguiar e sua mulher, Ramira, são exemplos de pessoas que retomaram os estudos depois dos 50 anos. Os dois foram incentivados pela filha Patrícia, que cursou engenharia ambiental na USP com bolsa do Ismart.

"Voltamos por incentivo da nossa moleca. Nós viemos da Bahia, onde paramos de estudar muito cedo porque nossa condição de vida era precária", diz Aguiar, 61.

Ele, que trabalha na construção civil, tinha parado de estudar na antiga sétima série e há um ano retomou os estudos pelo EJA (Educação de Jovens e Adultos).

Ramira, 53, concluiu o ensino médio há pouco mais de um ano e, agora, considera seguir em frente.

"Penso em fazer faculdade, queria mudar de emprego, ganhar mais", diz ela, que trabalha como vendedora em uma fábrica de tecidos.

Mesmo que não consigam progredir profissionalmente, Ramira e Damião dizem que valeu a pena voltar a estudar.

"Melhorou nossa qualidade de vida, facilitou o convívio social com os amigos das nossas duas filhas", diz ele.

Ana Maria Soares Mendes, 41, diz que a convivência com os próprios filhos mudou depois que ela voltou a estudar. "Agora falo a mesma língua deles", conta.

Ana Maria, que vive na cidade de Santa Rita (Paraíba), voltou para a escola há pouco tempo, depois que os três filhos passaram a frequentar as oficinas oferecidas pelo Instituto Alpargatas, que incentiva a participação de crianças e jovens em projetos de esportes e cultura.

"Eles começaram a ficar mais tempo fora de casa. Eu queria acompanhá-los melhor e achei que deveria voltar a estudar."

Ana Maria, que já tinha retomado os estudos para concluir o ensino médio em 2006, resolveu voltar a frequentar a escola como ouvinte.

Ela conta que sentiu que o esforço valeu a pena quando o filho Emanuel chegou em casa orgulhoso dela porque um amigo da escola havia elogiado sua inteligência.

"Eu tinha ajudado em um trabalho da escola deles. Ele disse: mãe, graças à senhora, a gente tirou nota boa", diz Ana Maria.


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