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Soldado Noel e seus gnomos

Ofensiva de marketing da PM do Rio em UPPs tem Papai Noel de azul e gnomos escolhidos entre os policiais mais baixinhos

BERNARDO MELLO FRANCO DO RIO

"Quem brigar não vai ganhar presente. É, vocês aí mesmo. Eu tô de olho, hein!"

De farda cinza e cabelo preso, a soldado Danielle Marouço, 32, tentava apartar a confusão entre dois meninos no morro dos Macacos, em Vila Isabel, zona norte do Rio.

O revólver em sua cintura não intimidou os garotos, que continuaram a se empurrar na tentativa de ficar mais perto da pilha de presentes.

Já passava das três da tarde de ontem quando um carro da polícia chegou à favela com três PMs fantasiados: um Papai Noel e dois gnomos.

Outros praças assistiam à cena de longe, tentando conter as gargalhadas.

"O pessoal tá encanando, mas eu não tenho vergonha não", contou o soldado Carlos Henrique Alves de Lima, 23 anos e 1,70 metro de altura, vestido como gnomo.

Na última favela em que serviu, ele fez o papel de príncipe num baile de debutantes. "O capitão falou que precisava da gente, então a gente veio...", justificou.

'BAIXINHOS'

De acordo com um comunicado oficial, os gnomos natalinos foram escolhidos entre os policiais mais baixos da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do local.

O outro escalado foi o soldado Tiago Ermida, quatro anos e quatro centímetros de altura a mais que o colega.

"Eu falei para os dois: Vocês têm perfil de gnomo'. Foi um voluntariado compulsório", brincou o capitão Márcio de Almeida Rocha, 29, da nova geração de oficiais que assumiu postos de comando na Polícia Militar do Rio.

As crianças mais desconfiadas estranhavam o fato do Papai Noel estar mais magro que aquele que costumam ver na televisão. Também surpreenderam a roupa e gorro azuis, em vez do traje vermelho habitual.

"É que eu sou o Papai Noel da PM. A cor da polícia é azul...", tentou explicar o soldado Daniel Wilson, 29.

Até a ocupação policial, há três anos, o morro era controlado pela facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos), que proibia alusões ao vermelho do comando rival.

A Polícia Militar do Rio afirma que os traficantes foram expulsos e que isso não influiu na escolha do azul para o Papai Noel. De fato, moradores da favela circulavam ontem de vermelho sem serem importunados.

IMAGEM

Pouco mais de 300 crianças escreveram cartas com seus desejos em quatro escolas da comunidade. Os presentes foram doados por "padrinhos" e "madrinhas", entre policiais e civis.

O Natal da UPP foi promovido na semana em que o Estado faz uma ofensiva de marketing para celebrar os cinco anos das unidades, vitrine da política de segurança do governo Sérgio Cabral (PMDB).

O projeto está com a imagem desgastada desde o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, 43, na Rocinha. Treze policiais estão presos por suspeita de assassiná-lo, há cinco meses.

Ontem, o clima nos Macacos não era de notícias ruins. Apenas para os gnomos, segundo o capitão Rocha.

"Eles puseram essa roupa agora. Amanhã, quando o resto do efetivo vir as fotos, é que vai começar a gozação...", disse o comandante.


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