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Barbara Gancia

Enjoy sem enjoar!

Pergunte ao Nizan: quando falam de Brasil, até rolezinho no shopping vira rebelião no presídio da Roseana

Alô, turista que vem ao Brasil em 2014! Não me chamo Ni­zan Guanaes, mas gostaria de lhe dar as boas-vindas e oferecer algumas dicas a fim de tornar sua estada tão mais agradável do que já está programada para ser.

Assim que seu pezinho tocar o so­lo desta gloriosa potência, a primei­ra coisa que você verá serão fartos seios bronzeados balançando ao vento em meio a exóticos frutos tropicais.

Bem. Isso é o que o Nizan Guanaes gostaria que acontecesse. Ele torce muito para que a Copa dê certo, sa­be? E se Deus e Oxássa, ou sei lá qual o santo do premiadíssimo pu­blicitário e emérito filantropo (o Nizan é baiano) mentalizarem bas­tante entre 12 de junho e 13 de ju­lho, tenho certeza de que tudo sairá a contento. Não há como errar.

Mas é provável, caro turista, que logo após sua chegada, a primeira coisa a chamar atenção será uma placa dizendo: "disembarkation". Pois é, o uso do termo "arrival" pa­rece ter sido vetado, foi o que ouvi, em estudo encomendado pela Anac às Organizações Tabajara.

Não faz mal, logo você irá experi­mentar o calor local. Saiba que é na­tural a não retribuição do seu "obri­gada" ou "bom dia". Somos descontraídos. Está pensando que é à toa sermos os maiores exportadores de sandá­lia de dedo do planeta? Sabe o que se investiu em tecnologia para fa­zer um chinelo que não cheira e não solta as tiras, mané?

Entre um jogo e outro, você há de querer esticar as pernocas, aliviar a carteira, levar um berimbau para a mamãe, essas coisas "turísticas".

Cabe alertar, caso o Nizan ainda não o tenha feito, que nós brasilei­ros temos asco de calçada. Tirando dois ou três calçadões à beira-mar, em que gostamos de ser admirados andando, o resto a gente asfaltou. Calçada dá muito trabalho. E não agrega va­lor, entende? Para quem gosta de ir a todo lugar de automóvel, calçada não serve. Ainda mais se você repa­rar, caro gringo, que somos adeptos da arquitetura "peru no pires".

Pois é. Essa história de Niemeyer, arcos e o escambau é conversa de cartão-postal. Negócio de brasuca é morar em casa que nunca tenha jardim. Gostamos de muro alto e construção, um charme. Jardim para quê, se a gente tem a Amazô­nia inteira para chamar de nossa?

A Amazônia é um quintalzão e tanto, uma farra, o Nizan não gosta que eu fale disso com gente de fora, mas como é divertido espetar bun­da de índio com vara de pesca, dar estilingada neles com mamona --ui!-- e derrubar mata para plantar ração! Sabe como é, somos o maior país exportador de carne do mun­do. Até boi vivo exportamos. Bicho vai cagando de pé daqui até a China. Nos enche o peito de orgulho.

Podiam, quem sabe, ser mais compreensivos com nossos lapsos em matéria de conservacionismo. Começamos tarde a separar lixo. Estávamos muito ocupados assis­tindo a novela, percebe? Entre uma distração e outra, esquecemos também de questionar a inviolabi­lidade da urna eletrônica. Apenas achamos o máximo que o resultado das eleições chegue a galope. Assim a coisa se resolve de uma vez, né? Afinal, eu não pedi para votar. Saco.

Temos também uma questão me­nor com homicídios, latrocínios e acidentes com filhos de turistas ar­gentinos que escorregam por vãos em aeroportos. A fragilidade da in­tegridade física por aqui é só um de­talhe. Veja o Schumacher: não foi esquiar inocentemente e se deu mal? Minha mãe quebrou o maxi­lar comendo uma bolacha água e sal. Coisas ruins acontecem.

Se fosse na Suíça ninguém falaria. Mas quando é aqui qualquer rolezi­nho no shopping vira rebelião no presídio da Roseana. Eu, hein!

Olha só, Mr.Tourist: em vez de re­clamar da poluição e do frio, se dê por contente que ninguém pega dengue no inverno. Boa Copa e um 2014 melhor ainda! Brasil, il, il!


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