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Em 48 h, ação mudou cara da cracolândia, diz Haddad

80 usuários começaram a trabalhar como garis; alguns resistem às regras

Nos intervalos e ao fim do expediente de quatro horas, viciados usaram a droga; ação municipal não exige abstinência

ARETHA YARAK ANDRÉ MONTEIRO FABRÍCIO LOBEL DE SÃO PAULO

Menos de 48 horas depois de lançar programa para tentar ressocializar viciados, o prefeito Fernando Haddad (PT) comemorou o desmonte da chamada "favelinha" da cracolândia.

"Em apenas dois dias, conseguimos mudar a cara da região", disse o prefeito, durante visita ao local.

Embora o tom dominante entre os usuários seja elogioso, alguns já começam a relatar dificuldades em se adequar às regras do programa.

"Tem hora para tudo. Se for para me controlarem assim, não fico no hotel", disse Valéria Viana, 21.

Na manhã de ontem, dos mais de 200 usuários que já estavam abrigados, cerca de 80 começaram a trabalhar.

Eles foram escolhidos por apresentarem melhores condições de saúde e manifestaram vontade imediata de atuar na varrição das ruas do centro (por R$ 15 o dia).

A maioria dizia que o trabalho é uma oportunidade única. Um grupo, no entanto, já começa a ter dificuldades em se adequar.

"Saí para fumar fora do hotel, por respeito, voltei depois da meia-noite [ao hotel] e não consegui entrar. Passei a noite na rua", disse Juliana, 24.

Segundo ela, o hotel fechou as portas e ninguém podia entrar na madrugada: "Mais de 10 pessoas ficaram na rua. Se for assim, não fico".

A prefeitura, a ONG que faz a gestão do programa e o hotel negam que usuários tenham sido impedidos de sair e entrar de madrugada.

A prefeitura afirma que o cumprimento de algumas regras será cobrado. "Elas servirão para que eles consigam ter uma rotina e, assim, trabalhar e se capacitar", diz José Alexandre Sanches, secretário-adjunto do Trabalho.

Ontem, os primeiros participantes alternaram a nova realidade com o cotidiano de usuários de crack. A nova rotina incluiu vestir um uniforme e receber orientações sobre técnicas de varrição pela manhã. Em seguida, partiram para a limpeza das ruas.

Nos intervalos, porém, o vício fez com que muitos procurassem traficantes nas mesmas ruas que haviam acabado de varrer. Ninguém é obrigado a deixar a droga para ser atendido no programa.

Às 13h, no intervalo para o almoço, um homem vestindo uniforme azul segurava um cachimbo ao lado de outros usuários consumindo crack no largo Coração de Jesus.

Mais tarde, às 17h, outra usuária retirou a camisa da prefeitura e vestiu uma calça por cima do uniforme antes de comprar uma pedra.

"Você acha que alguém parou de fumar? Se alguém disser sim, estará mentindo", disse Daniel Freeman, 45.

Ele aderiu ao programa, mas ainda espera a definição de sua escala de trabalho. Além de varrição, o projeto prevê a zeladoria de praças.

A prefeitura espera que o vínculo criado pela rotina de trabalho incentive a diminuição do consumo e abra portas de saída do vício. "Se Deus quiser, vou parar", disse Rutemberg da Silva, 32.

De acordo com a prefeitura, os próprios usuários decidiram que não seria permitido o uso durante o horário de trabalho ou enquanto estão vestindo uniforme.


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